Maniac - Nova série da Netflix é tão ambiciosa quanto estranha

Ricardo Magalhães
Tempo de leitura: 5 min.

‘Maniac’ é uma série limitada original Netflix criada por Patrick Somerville e Cary Joji Fukunaga. Ainda mais, é também uma adaptação de uma série norueguesa com o mesmo nome.

Fukunaga entra assim num estilo diferente daquilo a que nos tinha habituado com ‘True Detective’. Fukunaga foi também o responsável pela realização dos dez episódios desta série, algo que não se vê muito actualmente.

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O que é que realmente sabemos acerca da mente humana? Inegavelmente que ainda temos muito por descobrir, na essência da palavra, sobre aquilo que pauta as decisões do nosso dia-a-dia.

Owen e Annie juntam-se a uma experiência que aspira a resolver os seus problemas.

Talvez um dia um novo tratamento aspire a poder perceber e até controlá-la de uma certa maneira? “Aspire” sendo a palavra certa a utilizar, isto porque, novamente, ainda estaremos bem longe de entender totalmente a nossa própria mente. E é aqui que entramos neste universo futurista nova-iorquino de ‘Maniac’.

‘Maniac’ apresenta-nos dois personagens, Owen Milgrim (Jonah Hill) e Annie Landsberg. Ambos vivem os seus dias sob a sombra de algo que não lhes permite ser feliz. Eventualmente a infelicidade de ambos leva-os a juntarem-se a uma experiência farmacêutica que tenta dar resposta a problemas de depressão, ansiedade, tristeza, entre outros do foro psicológico.

Esta experiência submete os seus sujeitos aos efeitos de três comprimidos diferentes. Cada um expõe os sujeitos a um sentimento diferente.

No entanto, as circunstâncias pelas quais cada um se alista nesta experiência são bem diferentes. Por um lado, Owen procura um caminho de saída da sua esquizofrenia.

Por outro lado, Annie procura, curiosamente, o caminho inverso. Annie, encontra-se numa espécie de vício do comprimido a que expõe os seus sujeitos a um sentimento de agonia e apresenta-lhes o seu maior trauma. Desta maneira, Annie acaba por ganhar um vício ao sujeitar-se a este efeito o que a leva a querer entrar na experiência simplesmente por este motivo.

A série aborda questões mentais como depressão, tristeza e até esquizofrenia

O restante elenco incluiu nomes como Sally Field, Justin Theroux e Sonoya Mizuno. Apesar da série abordar questões mentais como depressão, tristeza e até esquizofrenia os seus momentos emanam boa disposição maioritariamente. Com efeito, cenas entre os personagens de Field, Theroux e Mizuno acabam por ser cómicas de assistir.

Antes de tudo, ‘Maniac’ é uma série estranha, bastante estranha, o que não significa que é uma má série, porque não é. Por exemplo, uma das histórias contadas assenta na aventura de um casal com o objectivo de recuperar um lémure roubado.

Mas é exactamente nesta “estranheza” que ‘Maniac’ quer conquistar os seus espectadores. Por fora é uma pequena história sobre a recuperação de um lémure, por dentro é uma introspecção de cada personagem sobre si mesmo na procura dos seus próprios limites. Enfim, mergulhar mais fundo sobre esta questão levaria a spoilers, portanto vou conter-me de o fazer.

O universo apresentado é ambicioso, tal como os temas que envolvem a série. Começando por “Friend Proxies”, que são uma espécie de Uber de relacionamentos humanos. Imagina poderes desabafar sobre o teu dia com alguém desconhecido. Ou como no universo de ‘Maniac’ é chamado, os “Friend Proxies”.

‘Maniac’ é um take sobre a mente humana e o quão estranha e complexa pode ser. Acima de tudo, ‘Maniac’ aborda relações humanas…sim, com um background de ficção científica.

Emma Stone tem uma interpretação espectacular, como já seria de esperar. Enquanto Annie Landsberg não exibe os habituais traços de um personagem com que alguém se identifique (não é propriamente simpática com ninguém à sua volta), Stone consegue trazer à superfície todos os seus traços mais humanos e até um certo charme em todas as versões de Annie.

Emma Stone e Jonah Hill têm desempenhos incríveis!

Analogamente, o desempenho de Hill é também notável. Enquanto Milgrim, Hill interpreta, credivelmente, um personagem que vive com a sua esquizofrenia e não sabe bem o que fazer do que vê. Principalmente quando os limites de realidade e sonho ficam tão turvos e não sabe se o que está à sua frente é real ou não.

Em contraste com Annie, as versões de Milgrim dentro dos efeitos dos três comprimidos divergem bem mais. Annie parece reter a maioria das suas características ao longo das suas versões, algo que com Milgrim não é tão claro.

Igualmente como ponto positivo, dou um grande destaque à amizade criada entre ambos os personagens. Por mais ilógico que pudesse ser, tendo em conta as personalidades de cada um, acaba por fazer sentido tendo em conta a situação em que ambos estavam envolvidos.

No entanto, ‘Maniac’ apresenta também os seus defeitos. Nesse sentido, na minha opinião, um deles acaba por prejudicar bastante uma parte intrínseca do story-telling. A utilização de históricas que hiperbolicamente representam pequenas partes da personalidade dos nossos protagonistas podia ter resultado bem melhor.

Assim, quando estamos perante algumas destas versões dos nossos personagens a diferença entres estes e as suas versões é de tal forma evidente que estas mesmas se tornam personagens independentes, o que não me parece que fosse bem o objectivo. Dessa maneira, quando toda a série passa tanto tempo nestas versões perde a capacidade de nos identificarmos com estes personagens.

'Maniac' já está disponível na Netflix

Para concluir, ‘Maniac’ é sem dúvida uma série interessante, os temas abordados são complexos e ambiciosos e cada episódio tenta, através das maneiras mais estranhas, demonstrar o quão complexo pode ser a mente de uma pessoa. Embora nem todas as histórias escolhidas acertem em cheio, todas elas oferecem algo ao espectador. Se não for pelo seu significado escondido, o interesse é gerado pelo absurdo que cada uma apresenta.

Para os interessados, ‘Maniac’ está disponível para assistir para os assinantes da Netflix.

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