São Jorge: Crítica ao novo filme de Marco Martins

Rui Bacelar
Rui Bacelar
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São Jorge, um filme de Marco Martins que inicialmente iria mostrar a vida de um boxeur em Portugal e as suas dificuldades no dia-a-dia, acaba por retratar essencialmente a austeridade em Portugal, após a entrada da Troika.

Vive-se o ano de 2011, Nuno Lopes interpreta a personagem de um boxeur desempregado que trabalhava numa fábrica que fechou, afectada pela crise económica que devastava Portugal em dívidas, principalmente nas pequenas e médias empresas. São Jorge pode considerar-se um quase documentário.

Durante o filme aparecem pessoas reais, que vivem nos bairro sociais onde as cenas são maioritariamente filmadas. Falam dos problemas diários por que passam e as dificuldades que têm com baixos rendimentos. A revolta é sentida pelos que lutam por melhores condições de vida,como por exemplo,sindicalistas e trabalhadores das empresa em perigo de fecharem. A partilha desse sentimento é vivida em comunidade.

Jorge é quase uma analogia a São Jorge

Jorge quase não participa nesses diálogos, mas sofre sozinho. Jorge é quase uma analogia a São Jorge, santo guerreiro que ora à esperança, à proteção contra o mal, à fé e à coragem acreditando em dias melhores! É um homem duro mas apaixonado e sonhador, que não quer desistir. Após algum tempo sem sucesso nas lutas de boxe decide, em função de arranjar dinheiro para ficar com a então ex-mulher do seu filho, Susana, um trabalho como cobrador de dívidas.

Este tipo de trabalho surge rapidamente e cresce neste tempo da troika em Portugal. É um trabalho que requer frieza, e Jorge, apesar do desespero em arranjar dinheiro para impedir que a mãe do seu filho Nelson regresse ao Brasil, é demasiado sensível para aguentar um trabalho a cobrar dividas directamente aos devedores. Um trabalho que nao tem hora nem local, rígido e agressivo.

O filme é quase todo passado à noite, o que pode caracterizar o tempo obscuro e pesado que se vivia nesta altura em Portugal. O desespero de Jorge pode ser espelhado no suor que escorre pelas costas e que acaba por querer afastar com as mãos firmes a descer pela cabeça, este plano acontece a cada combate que vai travar.

Podia ser Sao jorge a preparar-se para mais uma batalha."Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge", como o próprio enfatiza. As imagens por vezes em planos saturados e desfocados das ruas mostram a crise que não se reportam só a um bairro, ou a uma cidade, mas a todo um país. O drama emocional vivido por Jorge, Susana e o filho Nelson poderia ter sido mais explorado, com diálogos mais longos e intensos. Pois a busca de uma vida melhor para os três por Jorge, o amor pelo filho e a paixão por Susana, mereciam ter sido retratados como união pela esperança de tempos melhores.

Os únicos sorrisos esboçados pela personagem de Nuno Lopes, foram sempre na presença de Susana e Nelson. O desfecho aberto do filme num plano médio, é como o futuro incerto de Portugal.

Artigo de Rute Ferreira para a 4gnews

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O Rui ajudou a fundar o 4gnews em 2014 e desde então tornou-se especialista em Android. Para além de já contar com mais de 12 mil conteúdos escritos, também espalhou o seu conhecimento em mais de 300 podcasts e dezenas de vídeos e reviews no canal do YouTube.