É um dos lançamentos mais recentes da Huawei e, como parece começar a ser hábito na marca, é inovador e excêntrico quanto baste para nos sentirmos como que compelidos a fazer esta análise.
Os FreeClip são auriculares de design aberto. Tal significa que estes auriculares não ficam dentro do canal auditivo, mas antes a pairar sobre o mesmo. Confuso? Não, excêntrico. Mas são confortáveis de usar? Sim, surpreendentemente confortáveis.
Huawei FreeClip
Design: Aberto
Conectividade: Bluetooth 5.3
Codecs: SBC, AAC, L2HC, LC3
Carregamento: USB-C
Peso: 5,6 gr (auricular); 44,5 gr (base de carregamento)
Autonomia: De até 36 horas
Partilho agora contigo a minha aventura com estes pequenos FreeClip que me estrearam no mundo dos auriculares de design aberto.
Unboxing
A experiência de abrir a caixa é sempre empolgante. A curiosidade humana dita que, sem cerimónia, retiremos tudo para vermos o que estamos a comprar. A base de carregamento dos FreeClip não é muito diferente do modelo FreeBuds Pro 3 também da Huawei. É um pouco mais alta e redonda, o que já nos faz antecipar a surpresa do interior.
Como habitualmente, no pacote de venda está incluído o cabo de adaptação e um pequeno manual de instruções que ajuda os utilizadores a posicionarem estes peculiares auriculares na sua orelha. Mas já lá iremos.
Quanto a mim, a verdadeira experiência unboxing dá-se quando abrimos a base de carregamento, pela primeira vez. De imediato, vimos duas hastes que mostram o design aberto e a forma como este é acomodado nesta base. Ficam “de pé”, devido ao seu formato excêntrico. Primeiro estranha-se e depois entranha-se, ao ponto de abrirmos a base de carregamento de uns auriculares “normais” e termos a sensação de que os botões vão ser demasiado grandes para serem acomodados no nosso pobre ouvido.
Como usar o design aberto
Tendo em conta a excentricidade deste design aberto, abro aqui espaço para um breve tutorial sobre os componentes de cada auricular e como este modelo deve ser usado. Comecemos pela descrição dos componentes.
A pequena esfera que fica a pairar sobre o canal auditivo chama-se Acoustic Ball; já a parte retangular que fica situada atrás da orelha tem a designação de Comfort Bean – de facto, o design faz lembrar um feijão – enquanto a haste tem o nome de C-Bridge, o que também é apropriado ao seu design.
Retirando o auricular da base de carregamento, a forma como o colocar na orelha é quase intuitiva. O Comfort Bean é colocado atrás da orelha numa posição que faz fixar a Acoustic Ball no canal auditivo, ainda que não fique totalmente no interior. A C-Bridge funciona como uma espécie de “brinco de mola” em redor da orelha.
Simples, prático e muito mais intuitivo do que parece à primeira vista. Para efeitos de testes, tentei trocar as voltas a estes auriculares, mas nunca consegui que ficassem fixos, a não ser que estivessem bem colocados. Por isso, primeiro estranha-se, mas depois entranha-se até ser muito esquisito voltar ao formato convencional dos intra-auriculares.
São confortáveis?
De acordo com a minha experiência, a resposta é sim. E é um sim com maiúsculas. Os FreeClip são extremamente confortáveis de usar. Não daríamos por eles, não fosse o barulho que fazem.
Este conforto na utilização fica a dever-se a não serem minimamente intrusivos. Não entram no canal auditivo, nem dilatam este canal à medida que a sessão de música avança nas horas. Muito menos ficamos com a impressão de termos tido uma cotonete enfiada no ouvido durante horas intermináveis, ao ponto de não estar lá nada, mas ainda sentirmos uma espécie de bola no ouvido.
Posso dizer, de consciência tranquila, que estes foram os auriculares mais confortáveis de usar que alguma vez testei. Mesmo perante auscultadores completos que, por vezes, esmagam as nossas orelhas.
Claro que este conforto, originou um pequeno mecanismo obsessivo compulsivo. Até me habituar, foram muitas as vezes que tentei colocar a Acoustic Ball mais dentro do ouvido. Mas era mesmo uma compulsão, os FreeClip não entram mais no canal auditivo, nem precisam de o fazer sequer para cumprir a sua função.
Aguentam o exercício físico sem saltarem disparados
Passado o teste de conforto, sigo para o teste do “ficam mesmo presos nas orelhas?”. Mais uma vez, a resposta é um sim. Aqui, terei de dar a explicação adicional de não ser uma fã (e muito menos praticante) de exercício físico mais intenso. As minhas experiências foram feitas com caminhadas, pequenas corridas para o autocarro e a lida doméstica.
Em todas as situações, os FreeClip mantiveram-se seguros no canal auditivo e na orelha. Ocasionalmente, foram ajeitados, mas até agora fico na dúvida se seria o meu mecanismo compulsivo ou se efetivamente os auriculares deslocaram-se.
Mais uma vez, por mais ou menos exigente que fosse a tarefa em exercício ou duração no tempo, os FreeClip aguentaram mais e melhor do que eu própria.
Boa qualidade de áudio, mas pouco isolamento de ruído externo
Agora vamos a outra particularidade do design aberto que pode não agradar ou responder às exigências de alguns utilizadores. Este design aberto, como não podia deixar de ser, não fornece cancelamento ativo de ruído. Afinal é aberto!
Como tal, não é o modelo indicado para as pessoas que querem ou necessitam de ficar isoladas numa “bolha sonora” com a sua música de eleição. Usei-os no autocarro e fiquei a par de todas as conversas, mexidas em carteiras e sacos e todos os outros sons vindos de um ambiente que aglomera várias pessoas no mesmo sítio.
Por essa razão, se a tua ideia é usares uns auriculares nos transportes públicos que isolem toda a população em redor, os FreeClip não são para ti. Mas se queres dar conta de tudo o que te rodeia, este é o modelo ideal porque nem precisas de estar a selecionar modos como “ouvir meio ambiente” ou a desativares o cancelamento ativo de ruído. Na prática, o utilizador tem de decidir se a tecnologia ANC é crucial ou não.
Usei-os também em casa, ao computador, e os FreeClip brilharam. Foram bastante eficazes a afastar o barulho vindo da rua, mesmo com a janela aberta, e lidaram bastante bem com todos os tipos de música, dentro do meu gosto eclético.
Ainda que a qualidade sonora dos “primos” FreeBuds Pro 3 seja melhor, estou em crer que tal fica a dever-se ao cancelamento ativo de ruído.
Outro ponto surpreendente dos FreeClip é que, apesar do seu design aberto, as pessoas ao nosso lado não ouvem a nossa música. Seria de esperar que, pelo menos, percebessem a melodia da faixa musical. Mas não. Neste ponto específico, os FreeClip cumprem com a anunciada privacidade e, ainda que não nos coloquem numa bolha sonora, isolam o som que ouvimos e essa é uma característica muito bem-vinda. Ninguém precisa de saber que, um dia por outro, recorremos aos clássicos da Madonna.
Chamadas de voz e o muito bem-vindo multiponto
Para as chamadas telefónicas, os FreeClip contam com cancelamento de ruído do vento e cancelam mesmo o assobiar habitualmente tão audível nos telefonemas. Garantia dada por todos os meus interlocutores e por mim própria nas várias experiências feitas com este modelo.
Ouvimos claramente a voz que fala, assim como também somos ouvidos com detalhe e nitidez. De resto, os FreeClip estão ao nível de qualquer outro modelo de auriculares da Huawei neste campo. A marca chinesa já provou que sabe como trabalhar bem esta funcionalidade.
Outra vantagem deste modelo é sua ligação multiponto. Podem estar ligados a dois equipamentos em simultâneo e passar de um para outro, quase sem o utilizador dar conta disso. Este recurso funciona bastante bem e, na minha opinião, devia já ser um padrão no segmento de auriculares.
Uma nota ainda para os controlos táteis. À semelhança de outros modelos Huawei, também os FreeClip funcionam por gestos. Mas, ao contrário de outros modelos Huawei, aqui os gestos reconhecidos são apenas toques. Dois toques na C-Bridge para atender e desligar chamadas, assim como é usado o duplo toque para parar ou retomar a música. Os três toques servem para passar à faixa musical seguinte.
Durante a minha utilização, os FreeClip reconheceram sempre os toques e cumpriram com a ordem solicitada. Sem surpresa, também neste ponto a Huawei já provou que sabe fazer as coisas funcionarem bem.
Autonomia anunciada confirmada
A Huawei anuncia que os FreeClip têm autonomia para 36 horas com a base de carregamento, sendo que cada auricular pode reproduzir música durante oito horas, quando está fora desta base, e “estar ao telefone” durante cinco horas.
No meu teste confirmei a autonomia anunciada. São verdadeiros campeões de bateria como se pretende num modelo que tem como objetivo principal ser utilizado em movimento.
O carregamento é também rápido, seja este parcial ou total. Mais uma vez, os 40 minutos anunciados pela Huawei para o carregamento completo foram confirmados, assim como apenas 10 minutos me possibilitaram mais um bom par de horas de utilização.
Conclusão
Os FreeClip da Huawei são excêntricos dentro do seu segmento de mercado. Mas é exatamente a sua excentricidade que os destaca. O design aberto, ao contrário do que seria expetável, fornece privacidade. Ninguém ouve a nossa música e essa é uma boa surpresa.
Mas há dois pontos que destacam este novo modelo da Huawei. O primeiro é o conforto na utilização. A forma como os FreeClip ficam presos na orelha do utilizador, não é minimamente intrusiva, o peso pluma de cada auricular não incomoda absolutamente nada, e por muito longa que seja a sessão de utilização, ninguém fica com impressões esquisitas no canal auditivo porque este está sempre liberto e solto.
O segundo ponto a destacar é a autonomia. 36 horas é tempo suficiente para os usarmos dias seguidos, sem necessitarem de ser alimentados. Atualmente, esta característica é crucial porque todos estamos sempre em movimento, de um lado para o outro.
A qualidade de som é também muito boa. Não vai responder às preces dos audiófilos mais exigentes, nem fornece cancelamento ativo de ruído. Mas também não se propõem a cumprir esses objetivos. Os FreeClip são os auriculares ideais para os utilizadores que querem sempre estar conscientes do que se passa à sua volta, mas a ouvir a sua música de eleição.
Perto de 5 estrelas
Pelo seu conforto e autonomia, as estrelas seriam cinco. No entanto, o seu preço de quase 200 euros, faz descer a classificação por ser, digamos, igualmente excêntrico. Também o facto de isolarem pouco o barulho, num sítio mais movimentado, retira pontuação.
Mas acredito que numa próxima iteração deste primeiro modelo FreeClip, a Huawei consiga otimizar o design aberto para que este consiga isolar mais o utilizador naquele mundo que é só seu.
Huawei FreeClip
Design: Aberto
Conectividade: Bluetooth 5.3
Codecs: SBC, AAC, L2HC, LC3
Carregamento: USB-C
Peso: 5,6 gr (auricular); 44,5 gr (base de carregamento)
Autonomia: De até 36 horas
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