Ecrãs de 120Hz em telemóveis: inovação ou simplesmente uma "moda"? (opinião)

António Guimarães
António Guimarães
Tempo de leitura: 4 min.

Pouco a pouco vão surgindo mais detalhes sobre o OnePlus 8, onde as atenções estão muito viradas para o seu ecrã. O CEO da empresa, Pete Lau, anunciou recentemente que os ecrãs da OnePlus terão uma taxa de atualização de 120Hz. Restantes empresas como Xiaomi e Samsung estão a caminhar para o mesmo.

Além disso, os ecrãs da OnePlus no futuro vão fazer uso do MEMC (Motion Estimation, Motion Compensation). Este é essencialmente outro nome para interpolação de frames, uma tecnologia também utilizada na indústria das televisões. Considerando que a OnePlus também fabrica televisões, deve ter feito sentido para a empresa implementar tecnologia semelhante nos seus telemóveis.

onepusls
OnePlus 7T Pro

Interpolação de frames é uma forma de processamento de vídeo onde são gerados automaticamente frames intermédios para "preencher" o vídeo e atribuir mais fluídez e qualidade à imagem. É óbvio que melhores resultados são obtidos com taxas de frames mais altas.

A Xiaomi está a preparar o seu Black Shark 3, um telemóvel para o mercado gaming. De acordo com as fugas de informação mais recentes este equipamento terá escolha entre 90Hz a 120hz. A Samsung irá provavelmente implementar uma taxa de atualização semelhante nos seus vindouros S20 (ou S11).

A "batota" da interpolação de frames pode não resultar bem

Esta tecnologia de interpolação já é utilizada em televisões. Certamente já viste algum programa na televisão onde é notória uma fluidez de imagem meio estranha ou artificial. Esta acontece quando, por exemplo, é visualizado um filme gravado a 24-30fps mas interpolado para criar 60fps.

O efeito final pode ser mais fluido mas não deixa de ser um atalho para "forçar" a imagem a correr na taxa de atualização mais alta que a televisão permite. A OnePlus quer aplicar o mesmo princípio aos telemóveis mas considerando a falta de conteúdo de 60Hz para cima, o utilizador não vai realmente usufruir da taxa.

Podemos argumentar que o OnePlus 8 será um telemóvel preparado para o futuro. No entanto, tenho de ser direto: quando o conteúdo a 120Hz estiver estabelecido, já existirão outros modelos mais recentes da OnePlus que tornarão o OnePlus 8 obsoleto. Assim sendo, acredito que pouco sentido faz "empurrar" esta tecnologia tão cedo.

Não existe muito conteúdo que suporte 120Hz

É importante salientar que estou completamente de acordo em aumentar a taxa de atualização nos telemóveis, que por norma ainda ronda os 30-60 fps. Contudo, as inovações tem de fazer sentido e trazer benefícios imediatos para o utilizador.

Conforme mencionado, o OnePlus 8 virá com um ecrã de 120Hz onde a interface OxygenOS (baseada em Android) irá tomar partido total da taxa mas e o resto? É certo e sabido que YouTube, Netflix e outras plataformas de conteúdo não suportam essa taxa. A interpolação de imagens é apenas um atalho e chega a baixar a qualidade de visualização em alguns casos.

É tão simples quanto isto: se o conteúdo não é gravado a 120fps, não vale a pena ser exibido nesse framerate. O que é que preferes ver: a versão original do filme com um framerate mais baixo ou uma versão "melhorada" com fluidez artificial que não existe?

Empresas deviam focar-se mais em benefícios reais para o utilizador

Baterias mais eficientes, maior qualidade de gravação, colunas de som estéreo, entre outros aspectos. Os chamados smartphones evoluíram bastante desde o primeiro iPhone ou o primeiro Android. Contudo, continuamos a ver as empresas por vezes a apostar em gimmicks (modas) do que em funções úteis e de longa duração.

Uma delas são as baterias. A aposta mais recente são os carregamentos rápidos e sem fios. Para permitir baterias ou chassis mais finos, tudo se trata de carregamentos de 40, 60 ou mesmo 100W. Isso também se aplica aos carregamentos sem fios.

Já uma bateria de longa duração continua a ser um sonho distante, aparentemente. As baterias em telemóveis evoluíram do níquel para o lítio. Qual será a próxima grande inovação? Grafeno? Misturas de lítio e enxofre? Até as empresas investirem em força, não saberemos.

Outro benefício que considero importante é a qualidade sonora de um telemóvel. Recentemente a DxOMark começou a classificar as capacidades de gravação e reprodução de som nos equipamentos, uma decisão muito importante pois tanto se fala de câmaras e ecrãs que nos esquecemos do som.

O som é uma componente importantíssima na experiência de um telemóvel. Ironicamente, alguns dos telemóveis mais dispendiosos do mercado como o Huawei Mate 30 Pro e Samsung Galaxy S10+ receberam classificações medianas. Seria de esperar que um telemóvel com preço de 1000 euros para cima fosse excepcional em tudo ou quase.

dxomark

Ainda no campo do som temos a colocação das colunas. Com a luta constante para acabar com notches e intrusões visuais no ecrã frontal, as fabricantes ignoram por completo o conceito de dupla coluna. O Google Nexus 6, por exemplo, é um telemóvel já considerado "antigo" e possui duas colunas frontais, conferindo uma excelente qualidade de reprodução.

Em suma, considero que a prioridade na introdução de novas tecnologias nos telemóveis deviam ser mais práticas e funcionais. O que achas? Concordas que ecrãs de 120Hz e baterias de carregamento rápido são importantes? Ou preferias ter alta qualidade sonora e manter o telemóvel longe do carregador durante mais tempo? Diz-nos a tua opinião nos comentários.

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António Guimarães
António Guimarães
Juntamente com os seus atuais companheiros Mi A2 e Surface Go, batalha para elucidar as massas sobre todos os acontecimentos da esfera tecnológica. "Informação é poder" é a frase que o acompanha diariamente. Talvez um dia a coloque numa t-shirt.