Uma nova clínica de saúde mental dedicada à reabilitação de pessoas viciadas no TikTok foi inaugurada na Suíça. Embora o foco possa parecer de nicho, o vício específico não parece ser raro e já é motivo de preocupação no país. De facto, a clínica está lotada e já tem listas de espera.
Localizada na cidade de Berna, no centro da Suíça, a Privatklinik Meiringen atende principalmente jovens entre 18 e 25 anos, um dos maiores públicos do TikTok, que tiveram contacto com a plataforma desde muito cedo.
Tratamento inclui terapia individual e em grupo
Os danos à saúde mental causados pelo excesso de tempo em redes sociais têm sido discutidos desde a chegada do Facebook e do Instagram. No entanto, a chegada do TikTok parece ter afetado as novas gerações de forma mais intensa.
Conforme é relatado pelo site suíço Blick, a Privatklinik Meiringen já tem todos os seus quartos individuais ocupados. O que reflete a preocupação dos pais com a saúde mental dos seus filhos, especialmente em relação à rede social da ByteDance.
Segundo o médico-chefe e diretor do centro de reabilitação, Stephan Kupferschmid, o tratamento dos pacientes inclui terapia individual duas vezes por semana, terapia em grupo de três a quatro vezes por semana e atividades artísticas e desportivas.
"Quando tratamos jovens com depressão ou transtornos de ansiedade, as redes sociais têm uma grande influência, e o TikTok é um aspirador de atenção. Fazes algo mesmo que não seja bom para ti, porque o efeito a curto prazo supera as consequências a longo prazo", explicou o médico ao site suíço.
De acordo com a clínica, o objetivo é ajudar os jovens a reorganizar a sua vida quotidiana para terem alternativas ao consumo excessivo das redes sociais.
A União Europeia já está a investigar o TikTok e possíveis estratégias para viciar utilizadores
Segundo um estudo da Universidade de Zhejiang, na China, o sistema de vídeos curtos do TikTok é capaz de desencadear uma sensação de prazer e satisfação no cérebro, levando à libertação de dopamina.
A dopamina é um neurotransmissor associado à regulação do humor, motivação, recompensa e aprendizagem. Para os investigadores, essas pequenas e constantes "injeções" de dopamina proporcionada pelo TikTok podem levar ao vício, com os utilizadores a terem dificuldade em focar-se noutras atividades que não produzam o neurotransmissor imediatamente.
Para um cérebro mais jovem, que ainda não está completamente desenvolvido, as consequências podem ser ainda mais graves. Além disso, há a preocupação dos jovens em "encaixar-se" em determinados grupos, obter status e ganhar popularidade, algo que a rede social pode promover ainda mais.
No estudo publicado na revista científica Brazilian Journal of Development, o pós-doutorado em neurociências e biólogo Dr. Fabiano de Abreu Agrela explicou que o vício em recompensas no cérebro proporcionado pela rede pode causar desequilíbrios hormonais que reduzem a capacidade de concentração e podem até desencadear ansiedade e depressão.
“Atualmente, o uso excessivo de redes sociais baseadas na velocidade, onde conteúdos de curta duração são infinitamente fornecidos com base nos seus gostos e necessidades, identificados através de algoritmos, moldam a química cerebral, gerando um vício na dopamina gerada por essas ‘pílulas de prazer’, causando a fadiga mental”, explicou o pesquisador no estudo.
Não é à toa que a União Europeia investiga atualmente a plataforma, para confirmar se o TikTok de facto utiliza estratégias para deliberadamente viciar os seus utilizadores.