Pais unidos pelo fim da "geração ansiosa" dos telemóveis: sabe como

Luís Guedes
Luís Guedes
Tempo de leitura: 3 min.

Os telemóveis fazem parte do nosso dia a dia, mas há idades em que isso pode ser particularmente preocupante. No Reino Unido, por exemplo, os pais têm-se unido em massa para fomentar o desmame tecnológico nos mais novos.

Como refere a CNBC, foi criado o movimento “Smartphone Free Childhood” (SFC), com a autoria de Daisy Greenwell e Clare Fernyhough. Em 2024, o projeto criou chats de grupo coletivos, que já contam com mais de 60 000 encarregados de educação em poucas semanas.

97% das crianças de 12 anos no Reino Unido tem telemóvel

A ideia surge por causa dos potenciais perigos que os pais veem no uso do telemóvel para os mais novos. A título de curiosidade, só no Reino Unido, 97% das crianças com 12 anos já tem um smartphone (via Ofcom).

Isso faz com que o uso da Internet e das redes sociais seja cada vez mais precoce. O problema é que, como muitos especialistas nos têm vindo a demonstrar, há uma relação causal entre as redes sociais e a saúde mental.

Qual é o objetivo concreto deste projeto?

Tendo como base a mesma fonte de informação, o objetivo do SFC é “unir os pais que não estão a dar smartphones aos filhos para aliviar a pressão dos colegas e o isolamento que eles podem sentir”.

Por isso, na página oficial do Smartphone Free Childhood, são destacadas três missões principais:

  • Aumentar a conversa nacional sobre os danos dos smartphones para as crianças.

  • Capacitar pais e escolas a tomarem medidas coletivas

  • Pressionar o governo e as empresas de tecnologia para ajudar a proteger nossas crianças.

Neste momento, o conceito já começa a ser replicado em vários países por todo o mundo, como Austrália, Brasil ou Canadá. Recorde-se que, por causalidade ou não, mal o SFC foi lançado no Reino Unido, o governo atribuiu novas regras de uso (ou ausência dele) de telemóveis na escola.

Criança Telemóvel (via Copilot)
Imagem Ilustrativa (via Copilot)

Tecnologia prejudica mesmo? Há quem ponha as coisas em perspetiva

No sentido oposto, há sempre quem defenda a tecnologia para os mais novos. Para o psicólogo Christopher Ferguson, em entrevista à CNBC, também há que ter em conta que a sociedade tende a reagir mal ao progresso digital.

Desde a Inteligência Artificial (IA) aos telemóveis, este evoca uma eventual resistência do público a aceitar os benefícios tecnológicos. Contudo, pode dizer-se que a maioria dos estudos mostram a Ferguson que pode haver um fundo de razão nessa posição coletiva.

Uma pesquisa do Sapien Labs, feita em 2023, analisou dados de cerca de 28 000 jovens, entre os 18 e os 24 anos. Para ter resultados fidedignos, foram escolhidas pessoas de vários cantos do mundo.

Quem tem telemóvel cedo, tende a relatar sensações recorrentes de angústia

Os números mostram que 74% das entrevistadas (mulheres) que teve o primeiro telemóvel aos 6 anos relatam sensações permanentes de angústia. Esse valor cai para 61% para quem apenas teve aos 10 anos e volta a cair para 52% para quem adquiriu aos 15.

Se há uma relação causal ou não? Podemos sempre argumentar que sim ou não. No entanto, a discrepância de números indica que não é descabida a hipótese de que, de facto, o smartphone faz mal à saúde mental. Até porque, nos homens, a tendência também é semelhante.

Como refere Zach Rausch, investigador da Universidade de Nova Iorque, dados destes fazem com que os pais queiram agir. Há até um best-seller americano, número 1 do New York Times, que chama aos mais novos “A Geração Ansiosa”, no título da obra.

Luís Guedes
Luís Guedes
É apaixonado pela escrita. Desde tecnologia, a entretenimento, passando sempre pela música e pelos livros, o Luís é fascinado por tornar o complexo em simples e o simples em ainda mais simples.