Os telemóveis fazem parte do nosso dia a dia, mas há idades em que isso pode ser particularmente preocupante. No Reino Unido, por exemplo, os pais têm-se unido em massa para fomentar o desmame tecnológico nos mais novos.
Como refere a CNBC, foi criado o movimento “Smartphone Free Childhood” (SFC), com a autoria de Daisy Greenwell e Clare Fernyhough. Em 2024, o projeto criou chats de grupo coletivos, que já contam com mais de 60 000 encarregados de educação em poucas semanas.
97% das crianças de 12 anos no Reino Unido tem telemóvel
A ideia surge por causa dos potenciais perigos que os pais veem no uso do telemóvel para os mais novos. A título de curiosidade, só no Reino Unido, 97% das crianças com 12 anos já tem um smartphone (via Ofcom).
Isso faz com que o uso da Internet e das redes sociais seja cada vez mais precoce. O problema é que, como muitos especialistas nos têm vindo a demonstrar, há uma relação causal entre as redes sociais e a saúde mental.
Qual é o objetivo concreto deste projeto?
Tendo como base a mesma fonte de informação, o objetivo do SFC é “unir os pais que não estão a dar smartphones aos filhos para aliviar a pressão dos colegas e o isolamento que eles podem sentir”.
Por isso, na página oficial do Smartphone Free Childhood, são destacadas três missões principais:
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Aumentar a conversa nacional sobre os danos dos smartphones para as crianças.
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Capacitar pais e escolas a tomarem medidas coletivas
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Pressionar o governo e as empresas de tecnologia para ajudar a proteger nossas crianças.
Neste momento, o conceito já começa a ser replicado em vários países por todo o mundo, como Austrália, Brasil ou Canadá. Recorde-se que, por causalidade ou não, mal o SFC foi lançado no Reino Unido, o governo atribuiu novas regras de uso (ou ausência dele) de telemóveis na escola.
Tecnologia prejudica mesmo? Há quem ponha as coisas em perspetiva
No sentido oposto, há sempre quem defenda a tecnologia para os mais novos. Para o psicólogo Christopher Ferguson, em entrevista à CNBC, também há que ter em conta que a sociedade tende a reagir mal ao progresso digital.
Desde a Inteligência Artificial (IA) aos telemóveis, este evoca uma eventual resistência do público a aceitar os benefícios tecnológicos. Contudo, pode dizer-se que a maioria dos estudos mostram a Ferguson que pode haver um fundo de razão nessa posição coletiva.
Uma pesquisa do Sapien Labs, feita em 2023, analisou dados de cerca de 28 000 jovens, entre os 18 e os 24 anos. Para ter resultados fidedignos, foram escolhidas pessoas de vários cantos do mundo.
Quem tem telemóvel cedo, tende a relatar sensações recorrentes de angústia
Os números mostram que 74% das entrevistadas (mulheres) que teve o primeiro telemóvel aos 6 anos relatam sensações permanentes de angústia. Esse valor cai para 61% para quem apenas teve aos 10 anos e volta a cair para 52% para quem adquiriu aos 15.
Se há uma relação causal ou não? Podemos sempre argumentar que sim ou não. No entanto, a discrepância de números indica que não é descabida a hipótese de que, de facto, o smartphone faz mal à saúde mental. Até porque, nos homens, a tendência também é semelhante.
Como refere Zach Rausch, investigador da Universidade de Nova Iorque, dados destes fazem com que os pais queiram agir. Há até um best-seller americano, número 1 do New York Times, que chama aos mais novos “A Geração Ansiosa”, no título da obra.