O estranho caso dos ‘artistas fantasma’ do Spotify

Pedro Alves
Pedro Alves
Tempo de leitura: 2 min.

Quem são os ‘artistas fantasma’ que o Spotify anda alegadamente a recomendar aos utilizadores? Porque o faz? Quais as playlists que os incluem? E como é que a Inteligência Artificial está a ajudar?

Estas são apenas algumas das questões levantadas por um artigo da ‘Harpers Magazine’, que denuncia práticas menos éticas por parte do Spotify em relação às músicas que disponibiliza aos seus utilizadores, bem como à forma como o faz.

Segundo esta revista, o Spotify estará a encher as suas playlists de músicas genéricas - também conhecidas por ‘música de elevador’, ou ‘Muzak’ -, recomendando-as depois aos utilizadores, em playlists temáticas, como sendo de artistas que, na verdade, serão criações de algumas empresas de produção.

O objetivo? Rentabilizar as músicas o máximo possível, pagando o mínimo de royalties possível aos criadores, sobretudo os mais conhecidos dentro de cada género.

500 ‘artistas fantasma’

O estranho caso dos ‘artistas fantasma’ do Spotify

O artigo da Harper’s tem como base o livro “Mood Machine: The Rise of Spotify and the Costs of the Perfect Playlist”, da autoria de Liz Pelly, que deverá chegar às lojas a 7 de janeiro.

Nele a autora fala da utilização de uma aplicação chamada Perfect Fit Content (PFC), que basicamente ‘encaixa’ nas playlists as músicas criadas por um leque restrito de compositores, normalmente ligados a empresas de produção musical.

Essas músicas serão introduzidas maioritariamente em playlists ligadas a géneros musicais como hip-hop, jazz, música ambiente e mesmo música clássica. Nessas listas o Spotify estará a dissimular temas sob autoria de artistas supostamente desconhecidos do público, mas que, na realidade, não existem.

David Turner, crítico musical citado pelo Jornal Expresso, dá o exemplo da playlist ‘Ambient Chill’, que “descartou artistas comummente ligados ao género - como Brian Eno ou Jon Hopkins - para recorrer a temas criados pela Epidemic Sound, uma empresa sueca especializada em música de produção".

O Expresso fala ainda de outro caso trazido a público pelo jornal sueco “Dagens Nyheter”, que nos últimos anos terá descoberto cerca de 500 artistas no Spotify criados por apenas 20 compositores.

“Um desses 500 ‘artistas-fantasma' contará com uma biografia totalmente fictícia, e as suas faixas foram escutadas no Spotify milhões de vezes”, indica o semanário português.

Onde entra a Inteligência Artificial?

Segundo o site TechRadar, o artigo da Harper’s esclarece que esta prática incide sobretudo em listas de reprodução para ouvir em segundo plano, apresentadas sob nomes como ‘batidas instrumentais relaxantes’ ou ‘house lo-fi', por exemplo.

Com isto o Spotify consegue reduzir nos custos com os royalties pagos aos músicos, sobretudo em áreas musicais onde a exigência dos utilizadores por artistas de vulto não será tão grande.

E tudo poderá mudar ainda mais, a crer no entusiasmo que Daniek Ek, co-fundador e CEO do Spotify, já demonstrou em relação ao uso da IA na criação de música.

O TechRadar coloca em causa esta ideia sob duas perspetivas: o lado dos direitos de autor, já que muitos sistemas de IA são treinados com temas protegidos, produzindo música a partir desses conteúdos; e o lado da qualidade do resultado final, questionando se “o objetivo da IA é realmente melhorar a nossa experiência de audição, ou é transmitir o equivalente musical de imagens de IA de baixa qualidade?”

Sobre as acusações publicadas pela ‘Harper's Magazine’, um porta-voz do Spotify já respondeu afirmando serem “categoricamente falsas".

Pedro Alves
Pedro Alves
À paixão da escrita juntou a da Tecnologia e fez disso profissão durante duas décadas.