A Nothing, a marca de Carl Pei conhecida por querer tornar a tecnologia "divertida" outra vez, demorou o seu tempo. Mas finalmente entrou no competitivo mercado dos auscultadores circumaurais (over-ear). E fê-lo em grande estilo com os Nothing Headphone (1).
Com um preço de lançamento de 299 € em Portugal, não vêm para ser os mais baratos, mas sim para oferecer uma alternativa de design e experiência a quem está cansado do domínio da Sony e da Bose. Foram os meus companheiros sonoros nas últimas três semanas e digo-te já: a Nothing tem aqui um vencedor.
Unboxing
A experiência começa na caixa, que transmite a qualidade e a atenção ao detalhe da marca. Lá dentro, encontras os auscultadores já acondicionados num estojo de transporte rígido com um acabamento suave.
Além dos Headphone (1), tens também os dois cabos que vais precisar: um USB-C para carregamento e áudio lossless e um cabo de jack 3,5 para jack 3,5 mm, para ligação a fontes tradicionais.
Qualidade de construção e design
É aqui que os Headphone (1) se distinguem de tudo o resto no mercado. A filosofia de design da Nothing está em pleno neste produto. Goste-se ou não das escolhas feitas, estão cá os seus icónicos elementos transparentes que deixam ver parte dos componentes internos e das câmaras acústicas.
Estes são combinados com alumínio e plásticos de grande qualidade. O resultado é um look que é futurista, mas, em simultâneo, tem um toque retro-industrial. Não deixa ninguém indiferente. Pessoalmente foi ‘amor à primeira vista’. Mas este não é um design para todos.
As conchas combinam o metal com as zonas ovais transparentes, e os braços telescópicos deslizam de forma suave e precisa para se ajustar ao tamanho da tua cabeça. A construção sente-se robusta e premium. O único "senão" no design, para mim, é a portabilidade.
Estes auscultadores não se dobram sobre si mesmos como os Sony WH-1000XM6, por exemplo. Apenas as conchas rodam para ficarem planas a descansar no pescoço. O que significa que o seu estojo de transporte, embora elegante, é um pouco maior e ocupa mais espaço na mochila. Um pormenor a ter em conta se viajas muito.
Conforto e controlos
Em termos de conforto, a Nothing acertou em cheio. As almofadas com espuma de memória e revestimento em pele sintética são extremamente suaves, envolvem bem a orelha e distribuem a pressão de forma uniforme. No entanto, os 329 gramas sentem-se após algum tempo. São mais pesados que alguns dos concorrentes diretos.
São uns auscultadores que podes usar durante horas a fio, seja numa viagem longa ou num dia de trabalho intenso, sem sentires desconforto. Usei-os por dias inteiros e mesmo com tempo mais quente, só senti calor após algumas horas de uso. Mas são do mais confortável que tenho usado e sou bastante esquisito neste campo.
Um ponto muito positivo, para mim, está nos controlos. A Nothing fugiu à tendência dos controlos por toque, que muitas vezes são imprecisos e frustrantes, e apostou em controlos físicos que são um prazer de usar.
Tens o "Roller", uma rodinha que usas para ajustar o volume com precisão e que com um clique usas para play/pause ou longo clique para alternar entre os modos de cancelamento de ruído e transparência. Mas não se fica por aqui.
Temos o "Paddle", que é uma pequena alavanca para passar de faixa ou para avançar numa canção e o "Button", que é um botão personalizável. Podes, por exemplo, usá-lo para ativar o Gemini. Temos ainda um slider para ligar e desligar os headphones. É uma abordagem bastante mais intuitiva, fiável e satisfatória.
Qualidade de áudio
O som dos Headphone (1) foi afinado em parceria com a lendária marca de áudio britânica KEF, e nota-se. O resultado é um som rico, detalhado, natural e muito equilibrado. Os graves estão presentes, com impacto, mas sem abafar as outras frequências. Os médios são claros e as vozes soam presentes; já os agudos são cristalinos e bem definidos.
O áudio acaba por ficar ainda melhor se mexeres com o equalizador, e encontrares a 'fórmula' para o teu gosto. Para os audiófilos, há suporte para áudio de alta resolução sem fios via codec LDAC. Algo que poderás aproveitar ativando-o na app. Podes também ouvir em modo com fios para qualidade lossless através da porta USB-C ou do jack 3,5 mm (mas tens de ter bateria).
A app Nothing X fornece ainda um equalizador avançado de 8 bandas para que possas moldar o som exatamente ao teu gosto. Gostas de graves? Queres mais predominância das vozes? Está tudo lá à distância de uns cliques.
Tens também áudio espacial com monitorização, que funciona bem para filmes e jogos, já que ajuda a criar uma experiência mais envolvente. O som não atinge o nível de detalhe de auscultadores que custam mais 150 ou 200 euros. Mas por 299 € a qualidade sonora é muito boa.
Cancelamento de ruído e modo de transparência
O cancelamento de ruído ativo dos Headphone (1) é muito eficaz. Nos meus testes, seja em casa com o aspirador robô ou numa viagem de comboio a Lisboa, os Headphone (1) conseguiram criar uma bolha de silêncio muito competente.
Conseguem eliminar grande parte dos ruídos constantes de baixa frequência. Não será o líder absoluto do mercado, mas está ao nível do que se espera de uns auscultadores premium e permite-te mergulhar na tua música sem grandes distrações.
O modo de transparência também funciona muito bem. Neste caso, parece-me que não fica a dever aos melhores do mercado. Com este ativado, o som exterior passa de forma clara e natural. Conseguimos ter uma conversa com outra pessoa ou andar na rua com segurança sem ter de retirar os auscultadores.
Chamadas
A qualidade das chamadas também é um ponto positivo destes auscultadores. Utilizam um sistema de 4 microfones com cancelamento de ruído ambiental (ENC) assistido por IA, treinado com milhões de cenários.
Nas minhas chamadas, nos ambientes com algum barulho de fundo, os meus interlocutores disseram sempre que me ouviam de forma clara e nítida. O que cada vez mais impressiona nestes produtos é a boa capacidade de cancelarem os ruídos de fundo (como automóveis) quando estamos em chamada.
Software e App
A app Nothing X é o centro de controlo destes auscultadores. É lá que personalizas o equalizador, os modos de cancelamento de ruído ativo e as funções do "Button". Este botão pode ser configurado para ativar o assistente de voz.

Para quem tem um telemóvel Nothing, podes ativar funcionalidades exclusivas como o "Channel Hop" (para saltar rapidamente entre as tuas apps de áudio favoritas) ou o "Essential Space" (para gravar notas de voz rápidas). Estas, claro, são exclusivas dos smartphones da marca.
A ativação de LDAC, modo de latência reduzida, deteção de uso e a ligação multiponto também está presente. Podes ligar a dois dispositivos em simultâneo e funciona impecavelmente. Estava a ouvir música no meu MacBook Air e, mal recebi uma chamada no meu Android, a música pausou e atendi a chamada imediatamente.
Bateria
A autonomia anunciada é muito boa. A marca promete até 35 horas de reprodução com o cancelamento de ruido ativo ligado, e umas massivas 80 horas com o ANC desligado. Pela minha experiência, estes números estão bem perto da realidade. Traduz-se sem problemas numa semana de utilização sem ir à carga. Claro, depende do teu uso.
E se estiveres com pressa, um carregamento rápido de 5 minutos dá-te 2,4 horas de reprodução adicional com ANC. É uma bateria que te vai fazer esquecer que precisas de a carregar. Quando precisares de o fazer, é através da porta USB-C com o cabo fornecido ou com qualquer outro desta tecnologia.
Para quem são os Nothing Headphone (1)?
Estes auscultadores são para quem está cansado do design "igual a todos os outros" e procura um produto com uma identidade visual forte, única e premium. São para quem valoriza uma ótima qualidade de áudio, refinada e equilibrada, a um preço que, embora não seja baixo, é justo para o que oferece.
São para quem aprecia controlos físicos intuitivos e que funcionam sempre. E são, acima de tudo, para quem quer uns auscultadores que sejam uma ferramenta para ouvir música, mas também um acessório de estilo que faz uma afirmação.
A troca que fazes é um pouco na portabilidade pelo facto de não dobrarem totalmente. Mas o que ganhas em design, experiência de utilização e qualidade sonora, para mim, compensa largamente. Estes são daqueles produtos que não passam despercebidos.
Conclusão
Para a sua primeira aventura no mundo dos auscultadores circumaurais, a Nothing criou um produto com uma identidade e uma alma que faltam a muitos concorrentes. Goste-se ou não se goste da abordagem, os Headphone (1) são uma lufada de ar fresco.
O design transparente e industrial é arrojado e premium, o conforto é de topo para usar durante horas a fio, e a qualidade de som, refinada pela KEF, é muito boa para os 299 € que custam. Os controlos físicos são mais práticos e satisfatórios que qualquer painel tátil.
Sim, o facto de não se dobrarem totalmente torna o seu estojo de transporte maior e menos prático para o viajante minimalista. É o único compromisso real que tens de fazer face a alguns concorrentes com essa possibilidade.
Se valorizas o design, uma experiência de utilização tátil e um som de alta qualidade, e queres algo que se destaque da monotonia do mercado, os Nothing Headphone (1) são uma escolha que tens de considerar e um dos produtos mais interessantes e arrojados de 2025.