A Apple sempre teve uma obsessão por tornar os seus produtos mais finos e leves. O iPhone Air é o culminar dessa filosofia. É a tentativa da marca de criar o iPhone mais elegante e portátil de sempre. Mas depois de o usar como o meu telemóvel principal durante a última semana, a questão que se impõe é: até que ponto se pode sacrificar a funcionalidade em nome do design?
Característica | Detalhe |
---|---|
Espessura e peso | 5,6 mm / 165 g |
Ecrã | 6,5 polegadas, LTPO, OLED, 120 Hz, 3000 nits |
Processador | Apple A19 Pro |
Câmara traseira | 48 MP |
Bateria | 3149 mAh com carregamento de 20 W |
A experiência de utilização: um iPhone de dois gumes
O efeito "uau" ao tirar da caixa e a surpresa da robustez
A primeira vez que pegas no iPhone Air, a reação é inevitável, como referi nas primeiras impressões. Com apenas 5,6 mm de espessura e 165 gramas, parece quase uma maquete e não um smartphone real. Provocou sempre um efeito de perplexidade a todos a quem mostrei durante estes dias, como se de uma peça de arte se trate.
É mais leve que muitos telemóveis com ecrãs mais pequenos e, no bolso, quase te esqueces que ele está lá. No entanto, esta leveza não significa fragilidade. O aro em titânio e o vidro Ceramic Shield 2 dão-lhe uma rigidez e uma sensação de produto premium que te descansam. E quem fez testes mais extremos comprovou isso mesmo. É uma peça de engenharia impressionante, confortável na mão e com um aspeto que vira cabeças.
Um ecrã de Pro num corpo de Air
O ecrã é, sem surpresa, espetacular. Estamos a falar de um painel LTPO Super Retina XDR OLED de 6,5 polegadas com 120 Hz ProMotion. Na prática, temos aquilo que se espera de um smartphone nesta faixa de preço. A fluidez do scroll no Instagram ou a navegar na web é de topo.
O brilho máximo de 3000 nits permite-te ver perfeitamente o ecrã mesmo com o sol do meio-dia a bater-lhe em cima. Para ver filmes ou séries, a qualidade de imagem, com suporte para Dolby Vision, é simplesmente das melhores que vais encontrar. A Apple não fez sacrifícios aqui e nós, enquanto utilizadores, agradecemos.
O preço da espessura: bateria, áudio, eSIM
É quando começas a usar o iPhone Air a sério que os sacrifícios se tornam óbvios e que podem revelar-se entraves à tua compra. O primeiro e maior deles é a bateria. Com apenas 3149 mAh, um número assustadoramente baixo para um ecrã de 6,5 polegadas em 2025, a autonomia é um problema real.
Em dias calmos de trabalho, com mais Wi-Fi e menos uso intensivo, conseguimos chegar ao fim da noite a raspar os 10-15%. Mas em dias mais intensos, com mais fotografia, uso de GPS e dados móveis, pelas 17h já andava à procura de um carregador. Aliás, não é à toa que durante a apresentação a Apple divulgou logo uma power bank dedicada só para este smartphone.
Isto obriga-te a andar sempre a pensar na bateria, algo que já não acontecia nos iPhone há várias gerações. Tive um iPhone 13 Pro e a bateria era muito boa para o tamanho. Para piorar, o carregamento é lento (50% em 30 minutos) é pouco para 3149 mAh e demora mais que uma hora a carregar na totalidade. E a porta USB-C está limitada a velocidades 2.0, uma decisão muito discutível se quiseres transferir os vídeos 4K que ele grava.
Para conseguir esta espessura a Apple também cortou no áudio; ou melhor, no número de colunas no smartphone. É que a única coluna que temos aqui fica situada na zona do auricular do smartphone. O áudio é de qualidade, tendo em conta que é apenas uma coluna. Mas para um smartphone deste preço, é uma limitação que não gostaríamos de ter, principalmente na hora de consumir conteúdo multimédia.
Há também que falar do elefante da sala que é o eSIM. Sim, o eSIM é o futuro e já há duas gerações que a Apple só vende iPhones com eSIM nos Estados Unidos. Este é o primeiro produto que a empresa ousou trazer para o nosso mercado sem a possibilidade de lhe colocar SIM físico.
Todas as operadoras em Portugal oferecem este serviço aos seus clientes e podes ter dois a funcionar em simultâneo. Mas para o utilizador mais conservador que não quer ainda abdicar do SIM físico e valoriza essa opção no dia a dia ou em viagem, este é um pormaior a ter em conta.
Câmara solitária na traseira
Outro sacrifício está na traseira e trata-se de uma câmara solitária de 48 MP. Tanto em boas condições de luz como à noite, as fotos e os vídeos são ótimos, com o detalhe e a ciência de cor a que a Apple nos habituou. Principalmente no vídeo, a estabilização é muito boa. Mas neste modelo não há modo cinematográfico, como nos outros iPhone.











Mas é só isso. Queres tirar uma foto de grupo mais ampla num jantar com amigos? Não tens lente ultra grande angular. Queres fazer um retrato com um bom zoom ótico a um objeto mais distante? Não tens lente teleobjetiva. Estás a pagar 1249 € por um telemóvel que, em versatilidade fotográfica, perde para modelos de gama média que custam um terço do preço.
Mas se estás disposto a abdicar dessa versatilidade, tens aqui uma boa câmara traseira e também uma câmara frontal boa para selfies e videochamadas, principalmente com o novo modo Center Stage. Este modo permite tirar uma selfie em modo paisagem, mesmo com o smartphone na vertical.


iOS 26 e outros pequenos (mas frustrantes) sacrifícios
O software, o novo iOS 26, é uma questão de gosto. A aposta na personalização com o design "Liquid Glass" pode agradar a alguns, mas para mim tornou a experiência mais confusa. Ter personalização é bom e durante muitos anos se reclamou isso no iOS. A Apple continua a dominar como poucos as animações, mas parece faltar coerência em alguns pormenores estéticos.
E os problemas crónicos mantêm-se face ao útlimo iPhone que testei. As notificações continuam a ser um caos, sem a boa divisão que acontece no Android; a gestão de ficheiros continua a ser limitada e o multitasking a sério de duas aplicações lado a lado ainda é uma miragem.
A juntar a isto, a grande aposta da Apple, a Apple Intelligence, ainda não está disponível em português de Portugal, embora a possamos usar. E está longe do trabalho feito por marcas como a Google ou a Samsung. A própria Apple admite isso quando delega tarefas mais complexas para o ChatGPT.
Para quem é o iPhone Air?
- Para quem prioriza o design e a leveza acima de tudo: se queres o iPhone mais fino e elegante de sempre, é este;
- Para quem quer um ecrã grande no corpo mais leve possível: a relação ecrã/peso é o seu grande trunfo;
- Para utilizadores casuais: se usas o telemóvel para tarefas leves ou não te importas de o carregar a meio do dia;
- Não é para ti se... precisas de uma bateria que dure o dia todo, se gostas de fotografia com zoom ou ultra grande angular, ou se queres a melhor relação qualidade/preço.
Conclusão
O iPhone Air é uma impressionante peça de engenharia e, provavelmente, dos smartphones mais bonitos que podes comprar. É um belo espécime do design industrial. Mas enquanto produto para o dia a dia, é um iPhone cheio de compromissos. Sacrifica pilares fundamentais como a autonomia e a versatilidade fotográfica em nome de uma finura extrema.
É um telemóvel de nicho, um "fashion statement" para quem o pode pagar e talvez o use como segundo equipamento ou então ciente das suas limitações. Mas para a grande maioria dos utilizadores, o iPhone 17 normal ou os modelos Pro, apesar de mais grossos, serão uma escolha mais inteligente e funcional se querem estar no ecossistema da Apple.