Facebook: eis as razões do desconforto com a política de privacidade da Apple

Carlos Oliveira
Carlos Oliveira
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A Facebook é a voz mais crítica à nova política de privacidade de Apple, implementada no iOS 14. Por várias vezes a empresa de Mark Zuckerberg apontou o dedo às regras implementadas pela sua compatriota, alegando defender os interesses das pequenas empresas.

Contudo, sabe-se agora que a rede social está mais preocupada com as suas próprias receitas do que com o sucesso dos seus parceiros de menor dimensão. A revelação é feita por antigos funcionários da Facebook e que apontam o seu real motivo de preocupação.

Facebook está preocupada em não conseguir identificar o teu iPhone ou iPad

Importa relembrar que no iOS 14, a Apple obriga a que todas as aplicações sejam mais transparentes no seu processo de rastreamento dos utilizadores. Além de estes saberem exatamente que dados são recolhidos, terão de dar permissões específicas para a recolha das suas informações.

Este último ponto é a verdadeira preocupação da maior rede social do mundo. A Facebook recolhe um identificador único em cada iPhone e iPad, conhecido como IFDA, mas que poderá ser barrado caso o utilizador assim o entender.

Este identificador é usado pela Facebook e os seus parceiros para saber em que dispositivo foi efetuada determinada compra. Em entrevista à CNBC, um antigo colaborador da empresa de Mark Zuckerberg dá um exemplo prático de como isto funciona.

"Estás a explorar as histórias do Instagram e vês um anúncio de um par de calças. Tu não carregas no botão do anúncio para obter mais informações porque está ocupado a verificar o que os teus amigos estão a fazer, mas as calças eram bonitas. Poucos dias depois, vais ao Google, procuras as calças que viste no Instagram e compra-las."

Num caso com este, é a loja quem vai recolher o IFDA e partilhá-lo com a Facebook. Deste modo, a rede social determina que o comprador viu o anúncio numa das suas plataformas e que a compra foi influenciada por aquela publicidade.

Esta prática é essencial para aferir a eficácia das publicidades na Facebook. Até porque se os seus parceiros não virem retorno na rede social, é natural que venham a desviar os seus investimentos para a concorrência.

Rede de público da Facebook também sairá prejudicada

Outra estratégia implementada pela rede social dá pelo nome de rede de público da Facebook. Graças aos dados gerados por esta rede, é possível colocar publicidades direcionadas mesmo em aplicações fora do espectro da rede social.

Este caso pode ser exemplificado com produtos dirigidos à faixa etária entre os 18 e os 34 anos, por exemplo. Graças aos dados constantes nesta rede de público, empresas podem atingir o seu público alvo através de anúncios em jogos.

Num caso como este, a receita gerada é dividida entre a empresa responsável pelo jogo e pela Facebook. Ou seja, mesmo quando estás fora da rede social, esta tem meios para lucrar com as tuas compras.

As implementações da Apple no iOS 14 podem, segundo a Facebook, diminuir em 50% os lucros gerados por este meio. Vale ainda notar que a rede de público da Facebook é responsável por cerca de 10% do lucro líquido da empresa.

O antigo funcionário da Facebok revela ainda que os pequenos negócios não utilizam os métodos de publicidade acima descritos. Assim sendo, a justificação apresentada de que as novas políticas de privacidade da Apple prejudicarão os pequenos negócios são infundadas.

Para terminar, é referido que o insurgimento da Facebook contra a Apple visa ainda restaurar a imagem da rede social perante o seu público. Danos que tiveram início com o rebentar do escândalo da Cambridge Analytica e que influenciou o resultado da eleição de Donald Trump com presidente dos EUA.

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No 4gnews desde 2015, escreve e acompanha as últimas tendências, sobretudo smartphones, para que os leitores estejam sempre bem informados.