Europa vai exigir retorno dos botões físicos em carros – e há um bom motivo para isso

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Tempo de leitura: 4 min.

Depois de anos a encher os painéis dos carros com ecrãs gigantes que fazem tudo menos facilitar a vida ao condutor, os fabricantes vão precisar de recuar.

A partir de 2026, os botões físicos — aqueles bons e velhos cliques táteis que não exigem que tires os olhos da estrada — voltam a contar pontos nas classificações de segurança do EuroNCAP. E, sim, há marcas já a mexer-se para os trazer de volta.

Ecrãs bonitos, segurança nem por isso

Europa quer volta dos botões físicos em carros
Imagem: Shutterstock / insta_photos

A EuroNCAP, organização europeia responsável pelos testes de colisão e segurança automóvel, anunciou que vai penalizar carros que obriguem os condutores a navegar por menus de ecrãs sensíveis ao toque para tarefas básicas como ligar os piscas, limpar o vidro ou acender as luzes de emergência.

A partir de janeiro de 2026, só os carros com controlos físicos e táteis para estas funções poderão aspirar às pontuações máximas de segurança. As novas diretrizes do EuroNCAP recomendam que os condutores não precisem de deslizar, tocar ou alternar o movimento enquanto estiverem a conduzir.

“As marcas já estão em alerta. Precisam de trazer os botões de volta”, confirmou Matthew Avery, diretor de desenvolvimento estratégico da EuroNCAP, em entrevista à WIRED.

O toque humano faz falta

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Imagem: Shutterstock / Peter Gudella

E há boas razões para isso. Estudos mostram que usar o ecrã do sistema de infoentretenimento enquanto se conduz é mais perigoso do que conduzir alcoolizado ou sob o efeito de drogas.

Um estudo britânico encomendado pela IAM RoadSmart revelou que usar o Apple CarPlay via toque pode tornar os tempos de reação até 5x piores do que conduzir sob o limite legal de álcool e quase 3x piores do que com canábis.

Como se isso não bastasse, a distração ao volante está associada a até 25% dos acidentes rodoviários na Europa, segundo um relatório recente da Comissão Europeia. O problema com os ecrãs é simples: falta-lhes feedback.

Europa quer volta dos botões físicos em carros
Infográfico traduzido / IAM RoadSmart

Ao contrário dos botões e mostradores tradicionais, não se sente nada. Ou seja, o condutor precisa de olhar, pensar e apontar — tudo coisas que tiram atenção da estrada.

“É essencial que tudo o que está ligado à condução — direção, travagem, mudança de marchas, luzes, limpa para-brisas — seja tátil. Os controlos físicos permitiam operar funções sem olhar, com base na memória muscular. Os ecrãs destroem essa intuição. Aumentam a carga cognitiva e põem em causa a segurança”, defende Steven Kyffin, ex-vice-reitor da Universidade de Northumbria e antigo designer na Philips.

Fabricantes já se preparam para mudanças

Os sinais de mudança já estão aí. A Volkswagen admitiu que cometeu um erro ao digitalizar demasiado o Golf Mk8, e o chefe de design, Andreas Mindt, garantiu, em entrevista à revista automotiva britânica Autocar, que todos os modelos futuros da marca vão voltar a incluir botões físicos para funções vitais.

“Nunca mais cometeremos esse erro. Não é um telefone, é um carro”, disse Mindt.

A Mazda também está a encontrar um meio-termo. No SUV CX-60, há um grande ecrã de 12,3 polegadas, mas as funcionalidades essenciais — como o ar-condicionado e os bancos aquecidos — continuam a ser controladas por botões físicos.

A própria interação com o ecrã é limitada durante a condução, e há até uma roda real para navegar pelos menus. Mas a maioria das marcas ainda aposta nos ecrãs — e muitos, sem alternativa.

Segundo a S&P Global Mobility, 97% dos carros lançados depois de 2023 têm pelo menos um ecrã. E porquê? Porque é mais barato e flexível: adicionar linhas de código custa menos do que puxar fios para botões reais, e as atualizações remotas exigem mesmo algum tipo de ecrã a bordo.

Botões para funções críticas — e ecrãs para o resto?

A EuroNCAP não quer eliminar os ecrãs por completo. Afinal, câmaras de marcha-atrás e sistemas de navegação modernos também são melhorias importantes. A questão é saber onde colocar limites.

“Uma nova parte das nossas classificações de 2026 será relacionada com os controlos do veículo. Queremos que os fabricantes preservem a operação de cinco controlos principais em botões físicos: limpa para-brisas, luzes, indicadores de direção, buzina e luzes de emergência”, diz Avery, do EuroNCAP, à WIRED.

Entretanto, o mercado já deu sinais de estar farto da “revolução tátil”. Uma pesquisa realizada pela revista britânica What Car? revelou que 89% dos 1.428 condutores inquiridos preferem botões físicos a ecrãs sensíveis ao toque.

Pode demorar algum tempo até vermos esta tendência a espalhar-se por todos os segmentos, mas uma coisa parece certa: os botões físicos não morreram — e estão prontos para fazer um glorioso regresso.

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Sabryna trabalha com comunicação há mais de dez anos e especializou-se a produzir conteúdos e tutoriais sobre aplicações e tecnologia. Consumidora de streamings e redes sociais, adora descobrir as novidades do mundo.