Quando falamos num chatbot de Inteligência Artificial (IA), pensamos no ChatGPT ou no Gemini, por exemplo. A questão é que há um chat de IA, no Paraguai, que é bastante diferente de tudo o que estamos habituados. Chama-se “Eva”.
Segundo a Rest of World, este chatbot de IA dá a conhecer a vida de uma mulher reclusa no Paraguai. A tecnologia foi criada por “El Surtidor”, um canal de notícias popular no país. “Eva” consegue responder a vários tipos de perguntas sobre o seu dia a dia.
“Eva” foi inspirada numa história real
O mais curioso acerca deste modelo de IA é que foi inspirado numa história real de uma mulher paraguaia que se encontra à espera de sentença. Por motivos de segurança, a sua identidade não foi nem será revelada. No país de origem, o chatbot já foi usado mais de 15.500 vezes.
“Gostei de fazer perguntas íntimas — coisas que nunca ousaria perguntar a ninguém pessoalmente, como por que ela está na prisão ou por que ela fez o que fez” - disse María Fretes, assistente social que experimentou falar com “Eva”.
![Chatbot IA](https://cdn.4gnews.pt/imagens/captura-de-ecra-2025-02-05-144614.jpg?class=article)
Um dos grandes objetivos por detrás da criação de “Eva” passa por humanizar as mulheres que são presas no Paraguai. Como refere a mesma fonte de informação, estas são vistas pelos media locais como negligenciadas.
“Queríamos criar empatia entre o público e um segmento da população que é amplamente invisível e excluído da grande media” - explica Juliana Quintana, jornalista do El Surtidor. A própria confirma que foi um grande “desafio”.
Quintana conta ainda que visitou uma prisão em Assunção (capital do Paraguai), durante 3 meses. Foi lá que conheceu a inspiração para “Eva”. A entrevistada deu todos os detalhes acerca da sua rotina, desde onde dormia, ao que comia, à forma de passar o tempo.
O chatbot de IA expõe as mulheres como o “elo final” de cadeias de crime
Acerca das mulheres presas no Paraguai, estas representam cerca de 5% do total da população. No entanto, se olharmos apenas para as mulheres, é possível ver que perto de metade são presas por causa de droga.
No site de “Eva”, é dito que estas “são o elo final na cadeia do tráfico de drogas”. Em conversa com o Rest of World, especialistas em direitos humanos disseram que, face à pobreza extrema em várias zonas do país, algumas mulheres são obrigadas a transportar droga.
O chatbot vem com 54 perguntas definidas previamente. Sobre “Eva”, a advogada paraguaia Maricarmen Sequera diz que esta, ao contrário de muitos modelos de IA, não é pensada “para servir grandes corporações ou o Estado”.
Antes pelo contrário, acredita que serve para “espalhar conhecimento”.