Sim, leste bem. Em breve, vai ser possível controlar um iPhone, iPad ou até o Vision Pro só com o pensamento. Isto porque a Apple entrou oficialmente na corrida das interfaces cérebro-computador (ou BCI, na sigla em inglês).
O objetivo? Tornar a mente uma forma nativa de interagir com dispositivos Apple, ao mesmo nível do toque, da voz ou da digitação, e trazer novas possibilidades para pessoas com mobilidade reduzida.
Apple reconhece interface neural como método de entrada oficial

Num comunicado oficial, a Apple anunciou uma parceria com a Synchron, a startup biomédica de Nova Iorque que desenvolve tecnologias capazes de ligar o cérebro humano a equipamentos digitais.
E se o conceito já te fez lembrar dos chips cerebrais da Neuralink, de Elon Musk, é importante deixar claro que há uma diferença fundamental entre o trabalho das duas companhias: as tecnologias da Synchron não exigem cirurgia cerebral aberta, como a abordagem invasiva da Neuralink.
A grande inovação da Synchron é o chamado Stentrode, uma malha metálica com sensores que é inserida através de um vaso sanguíneo até ao cérebro, onde capta sinais motores.

Esses sinais são enviados para um transmissor, que por sua vez comunica com um pequeno processador sem fios (do tamanho de um smartphone), que os converte em comandos em tempo real para um dispositivo Apple.
A empresa já tem o apoio de pesos pesados como Bill Gates e Jeff Bezos, e agora conta com o selo da Apple.
Primeiros testes já tiveram resultados positivos

A tecnologia da Synchron já foi testada com sucesso num paciente com ELA (esclerose lateral amiotrófica) nos Estados Unidos. Em julho de 2024, esse utilizador conseguiu controlar um Apple Vision Pro com o pensamento.
Na ocasião, ele jogou cartas, enviou mensagens e viu vídeos em streaming, tudo através da interface cerebral. A experiência parece ter sido o ponto de viragem para a Apple reconhecer o potencial desta tecnologia.
"Este é um momento decisivo para a interação entre humanos e dispositivos. […] a BCI é mais do que uma ferramenta de acessibilidade, é uma nova camada de interface de última geração", afirmou o neurologista Tom Oxley, fundador da Synchron.
Primeiro sistema BCI com integração nativa nos dispositivos Apple

A Synchron tornar-se-á assim a primeira empresa biomédica a conseguir integração nativa com o perfil BCI HID (Human Interface Device) da Apple. Para o CCO da empresa, Kurt Haggstrom, esta parceria é uma resposta direta às necessidades dos utilizadores com mobilidade reduzida.
"Quando perguntamos aos participantes dos nossos testes o que querem fazer, a resposta é sempre comunicação e criatividade. E para a maioria das pessoas, isso significa usar os seus dispositivos Apple", afirmou Haggstrom, conforme noticiado pela New Atlas.
Ensaios clínicos começam ainda este ano
A Synchron já confirmou que irá avançar com novos ensaios clínicos ainda este ano, direcionados a pessoas com deficiências motoras graves. Nestes testes, os participantes vão utilizar funcionalidades compatíveis com o BCI HID nos dispositivos da Apple.
Oxley recorda que mais de 100 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com desafios físicos significativos, como paralisia, que as impedem de interagir com tecnologias digitais. Ao integrar a interface cerebral nos dispositivos Apple, a Synchron acredita que vai ampliar a acessibilidade.