Num dia em que foi registado um terramoto de 5.3 na escala de Richter em Portugal, pode questionar-se quão preparado estará Portugal para atividade sísmica mais intensa. Tomemos como exemplo um país com atividade sísmica intensa e preparação para a mesma: o Japão.
Tal como um artigo da BBC atesta, os arranha-céus no Japão já são construídos para resistir a terramotos. O país tem dos edifícios mais resistentes do mundo e o segredo para que tal aconteça é a capacidade de os mesmos “dançarem” à medida que o solo se move sob eles.
O grande terramoto de Kanto de 1923, com magnitude 7.9, serviu como referência para os padrões de construção antissísmica. Esta construção tem como pilares o isolamento sísmico, amortecedores de movimento e há o cuidado no design estrutural.
A base do edifício é separada do solo por amortecedores, como blocos de borracha. Estes absorvem a energia sísmica e reduzem o movimento transmitido à estrutura. Os dispositivos instalados em diferentes níveis do edifício serve para reduzir as vibrações e oscilações durante um terramoto.
Os edifícios com formas regulares e distribuição uniforme de colunas tendem a ser mais resistentes a terramotos. As estruturas como a do Pavilhão Naoshima são dadas como exemplo, pois podem ajudar a distribuir a energia do terramoto e evitar o colapso.
Portugal não está tão preparado como países como o Japão para terramotos de grande magnitude
Quanto a Portugal, pode dizer-se que não está tão preparado quanto o Japão para terramotos de grande magnitude. Embora tenhamos regulamentações antissísmicas desde 1958 e estas tenham sido atualizadas ao longo dos anos, a sua aplicação e fiscalização apresentam desafios.
Um artigo de 2023 do Jornal Expresso citava uma fonte da Câmara Municipal de Lisboa para dizer que “metade dos edifícios da cidade não são resistentes a sismos”. À data arrancaram dois projetos para aferir a segurança das construções, mas os dados a nível nacional são escassos.
Tal como refere a fonte, cerca de 60% dos edifícios da cidade de Lisboa foram construídos antes da já referida regulamentação de 1958. E só se saberá quantos edifícios precisam de ser reforçados quando houver um índice de resistência das construções.
Falta regulamentação face à resistência sísmica em Portugal
Além da construção antiga, os investigadores de engenharia sísmica também alertam para o facto de existir pouca monitorização em Portugal. Ao jornal Eco, João Poças Martins, professor na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), afirmava que falta um “registo fidedigno daquilo que é o estado atual dos edifícios”.
Um pouco à semelhança do certificado energético que já existe nas habitações em Portugal, o professor defende algo equivalente para segurança sísmica. Será apenas um passo para que se possa começar a olhar mais para este tema.
Ainda há muito a fazer para alcançar o nível de resiliência dos edifícios do Japão. Mas parece ser consensual entre os especialistas que investir em reforço de edifícios antigos, garantir a aplicação rigorosa das normas antissísmicas, e aumentar a consciencialização pública sobre o risco sísmico e as medidas de prevenção serão passos a dar “para ontem”.