Como a IBM inventou o smartphone e depois abandonou-o

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Tempo de leitura: 3 min.

Em 1994, a IBM lançou um telemóvel conhecido como Simon, em parceria com a operadora BellSouth. Na época, o seu desempenho lento e alguns outros problemas acabaram por fazer com que o dispositivo não chamasse tanta atenção. O que foi percebido atualmente, entretanto, é que o Simon foi o precursor de algo sem o qual já não vivemos hoje: o smartphone.

O Simon tinha potencial para revolucionar os telemóveis

IBM Simon
Imagem: Bcos47 /Wikimedia Commons

O telemóvel Simon fez história na década de 1990 por trazer recursos de um computador de mão, conforme relembrou a página Fast Company. Além de contar com uma pequena interface touchscreen, o modelo criado por Frank Canova permitia aceder ao e-mail, bem como enviá-los. Ainda tinha um recurso para enviar faxes (alguém lembra-se do fax?), gerir o teu calendário e fazer anotações.

O Simon chegou às lojas em agosto de 1994. Na época, transformar um telemóvel num dispositivo de computação em rede era extremamente ambicioso. O Simon precisava enviar e-mails por uma rede 1G, por exemplo. Os serviços de e-mail ainda não eram projetados com comunicações sem fio em mente, mas a empresa até criou uma forma primordial de digitação preditiva para ajudar a facilitar a entrada de texto.

Não havia processadores e armazenamento de classe PC, várias câmaras, GPS e vários recursos que, hoje, julgamos como "básicos" num smartphone. Lançar um dispositivo como o Simon sem todas essas tecnologias à sua disposição é um mérito que hoje podemos reconhecer da IBM e da BellSouth. Mas também foram essas limitações que acabaram por levar ao fim deste telemóvel.

Em fevereiro de 1995, após a venda de 50 mil Simons, o modelo foi descontinuado. Achaste pouco? A reação pode ser natural, visto que a Apple, por exemplo, vendeu essa quantidade de iPhones a cada 2h em 2023, segundo dados da empresa de análise de mercado global IDC. Mas há outros fatores a serem considerados, como um potencial de importação bem menor ou mesmo a natureza de ponta do dispositivo de US$ 899.

O fim do Simon abriu caminho para outras marcas e modelos

blackberry
Diferentes gerações de Blackberry (Imagem: Shutterstock / Natalia Bostan)

Numa análise hoje, é possível percebermos que teriam sido necessárias várias gerações do Simon para o telemóvel chegar a um sucesso mundial. Com a descontinuação do modelo, entretanto, outras marcas continuaram a investir neste mercado.

A Palm, por exemplo, fez sucesso com o seu assistente digital pessoal PalmPilot, de bolso, acessível e extremamente eficiente na organização de tarefas e até mesmo na sincronização de compromissos e contactos com um PC. A BlackBerry também traçou o seu caminho com um gadget estilo pager com um teclado QWERTY que era surpreendentemente utilizável dado o seu tamanho diminuto.

Tanto os smartphones Android quanto os iPhones até hoje trazem marcas do "DNA" do PalmPilot e do BlackBerry. Infelizmente, o Simon não deixou uma grande marca, apesar de ter figurado possivelmente como primeiro smartphone. Mas, com certeza, o telemóvel da IBM foi um dos muitos exemplos de tecnologias que fizeram história em 1994.

"1994 foi assim. Em várias frentes, a tecnologia pessoal estava a evoluir muito rapidamente. Às vezes, a recompensa era óbvia e imediata; noutros casos, levaria anos ou mesmo décadas para acontecer. E em casos ainda adicionais, desenvolvimentos que pareciam históricos não levaram a lugar nenhum", afirmou Harry McCraken, do Fast Company.

Na sua análise, McCraken relembrou outras importantes tecnologias que surgiram naquele ano, como o código QR, o anúncio em banner da web e os cookies do navegador. Jeff Bezos também fundou uma empresa chamada Cadabra em 1994, que ele rebatizou de Amazon pouco depois.

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Sabryna trabalha com comunicação há mais de dez anos e especializou-se a produzir conteúdos e tutoriais sobre aplicações e tecnologia. Consumidora de streamings e redes sociais, adora descobrir as novidades do mundo.