Apple evitou falar do Android na apresentação do iPhone X, mas porquê?

Rui Bacelar
Rui Bacelar
Tempo de leitura: 6 min.

O evento de setembro da Apple foi uma apresentação já sem segredos para veteranos como Tim Cook, Jeff Williams ou para Phil Schiller, vice-presidente de marketing da Apple e escusado será dizer, para Jonathan Ive o maestro do design da Apple. Em muitos aspectos esta keynote foi elegante e bem orquestrada mas nesse dia de apresentação do iPhone X nem por uma única vez foi feita uma menção ao Android, mas porquê?

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Neste evento tivemos vários novos produtos e alguns deles com legítimas novidades e inovações bem como várias outras que já faziam parte do mundo mobile há vários anos e que a Apple se limitou a renomear com um novo jargão tecnológico mas não houve sequer uma alfinetada à Samsung, ao Android ou à Google. Quebrou-se a tradição.

Inovações do Android e melhorias da Apple?

A verdade é que por um lado não existiram grandes oportunidades para a Apple se vangloriar ou rebaixar o Android e demais rivais durante toda a apresentação do iPhone X. É certo que a Apple é a maior construtora de relógios do mundo (apesar de não especificar números nem receitas), portanto referir o rival Android Wear só daria mais publicidade à concorrência.

Android TV é algo que praticamente nem merece uma referência e a Apple foi inteligente em nem sequer referir o d Nougat chegou agora a pouco mais de 15% de todos os Android e já nem sequer é a versão mais recente deste sistema operativo portanto a Apple tinha todas as condições para dar esta alfinetada ao Android mas, mais uma vez, optou por não o fazer.

Apple iPhone X vs Android

O Apple iPhone X deu bastantes motivos à marca para se vangloriar mas claro que já existem vários dispositivos Android com ecrãs / telas muito semelhantes. Posso referir o Xiaomi Mi Mix, as suas inúmeras réplicas chinesas e a sua sequela, o Sharp Aquos Crystal lançado antes deles todos corria o ano de 2014.

Olhando para trás a Apple pareceu muito importada em apelidar de "revolucionário", "novidade" ou "mágica", uma tecnologia que já foi aplicada vezes sem conta em vários outros dispositivos ao ecrã do novo iPhone X (Super Retina Display).

Ecrã este que faz parte do fornecimento dos ecrãs / telas Super AMOLED presentes no iPhone X e em milhões de outros smartphones Android, ponto assente. Vá, não façam do público um conjunto de acéfalos com o sentido crítico de uma criança de 5 anos.

Para quê a palavra "Super"? Até entendo o "Retina" e não um simples "AMOLED" para não dar mais créditos à Samsung, a maior construtora Android mas vá, não nos enganem com palavras bonitas e sorrisos pelo meio.

Note-se que não estou a julgar o hardware mas apenas a retórica da apresentação durante a última keynote da marca e que já começa a ser uma tendência demasiado comum tanto na Apple como em várias outras construtoras.

iPhone X representa a visão de futuro da Apple

Podemos referir ainda o estranho caso do carregamento sem-fios. Aqui obviamente que a Apple não quis referir o Android uma vez que esta tecnologia já está presente neste lado do mercado há vários anos.

O facto de a Apple utilizar o padrão de carregamento sem-fios Qi é, contudo, de louvar! Não só é o padrão utilizado em milhões de bases de carregamento sem-fios como a marca não poupou elogios a este formato e quer até popularizar ainda mais este sistema de carregamento.

De igual forma seria bastante improvável que a Apple mencionasse os esforços da Google para se livrar dos botões físicos para voltar ao ecrã inicial desde que o Android Ice Cream Sandwich foi lançado em finais de 2011. Ou como a Google conseguiu encontrar maneira de colocar as notificações e os atalhos rápidos na parte superior do ecrã / tela com o Android 4.2 em 2012.

Aliás, em ambos os casos a solução encontrada pela Google até parece mais intuitiva do que a solução encontrada para o Apple iPhone X. Um botão "Home" virtual é mais rápido de utilizar e menos susceptível a gestos que possam fazer escorregar o smartphone da mão do que os deslizes obrigatórios executar as acções que até agora cabiam ao botão central "Home".

Face ID do Apple iPhone X

A Apple dedicou, justamente, bastante tempo à sua tecnologia de reconhecimento facial apelidada de Face ID e todas as preocupações com a segurança e robustez do software cumprem o prometido como aliás referiu Edward Snowden há poucos dias atrás.

Caso tudo funcione como prometido então a Apple terá conseguido um feito extraordinário. Pegar numa tecnologia que mais não passava de um fogo de vista ou "gimmick" no jargão tecnológico e fazer disto uma opção viável e popular para desbloquear o teu dispositivo.

Apesar de pessoalmente não achar que o Face ID alguma vez vá ser tão rápido ou prático de utilizar no dia-a-dia como uma simples impressão digital (será que funciona com óculos de sol?). Contudo, a gigante de Cupertino não fará o Touch ID desaparecer, aposto até no contrário.

Mesmo assim, o momento de apresentação do Face ID era a altura ideal para a Apple referir todas as falhas e imperfeições do Android. Oportunidade que em anos recentes não teria sido desperdiçada. Note-se que até há bem pouco tempo o reconhecimento facial da Samsung desbloqueava os seus topos de gama com uma simples fotografia do utilizador.

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Mas, por alguma razão desconhecida, mais uma vez a Apple absteve-se de sequer referir o Android, a Google ou qualquer outra construtora.

Será que a Apple está com medo do Android?

Improvável, muito improvável. Apesar de todas as repercussões e tom jocoso com que geralmente o grande público se refere à remoção da entrada jack de 3.5mm em 2016, duvido que a Apple esteja com algum receio de qualquer concorrente.

Creio que a marca teve mais cuidado em não afirmar que inventou todas estas tecnologias, desde o carregamento sem-fios com o padrão Qi, ao reconhecimento facial apesar de ter errado crassamente quando Phil Schiller afirmou que o iPhone X e iPhone 8 Plus foram os primeiros smartphones concebidos especificamente com esta tecnologia em mente.

Não, esse título pertence ao AR Kit.

A meu ver a Apple não está com receio do Android mas quis mostrar máxima confiança na apresentação do seu iPhone X e por vezes falar nos rivais pode fazer-nos parecer inferiores ou defensivos.

Pode ser que Tim Cook tenha orquestrado o evento para ser o mais positivo possível, uma homenagem à memória do saudoso Steve Jobs e uma ação de confiança para que o iPhone X seja visto como uma indiscutível vitória, imune ao Android ou a qualquer outro concorrente.

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Rui Bacelar
Rui Bacelar
O Rui ajudou a fundar o 4gnews em 2014 e desde então tornou-se especialista em Android. Para além de já contar com mais de 12 mil conteúdos escritos, também espalhou o seu conhecimento em mais de 300 podcasts e dezenas de vídeos e reviews no canal do YouTube.