Os utilizadores do WhatsApp fora da União Europeia estão preocupados com a sua privacidade perante a atualização da Política de Privacidade da maior plataforma mundial de comunicações instantâneas. A partir de 8 de fevereiro o WhatsApp fará chegar às Empresas do Facebook mais dados do utilizador para diversos fins, alteração que teve sérias repercussões.
As redes sociais fervilham com alertas sobre o caso, mas segundo aponta a Wired, a prática que só teria início a 8 de fevereiro de 2021 - fora da Europa - já estaria a ser aplicada desde 2016. Isto sem que a maioria dos utilizadores soubesse. Afinal, onde repousa a privacidade, se é que tal termo pode ser aplicado no contexto das redes sociais, sobretudo no grupo Facebook.
A notificação que lançou o caos no WhatsApp
Segundo a publicação supracitada, a notificação que chegou nas últimas semanas aos utilizadores mais não foi que um toque de alvorada para algo que já era feito desde 2016. Um simples artifício do grupo empresarial do Facebook.
O cerne da notificação apresenta novos termos de uso e da política de privacidade, visando expandir as práticas e opções para os utilizadores empresariais do WhatsApp que poderão armazenar as suas conversações na plataforma do Facebook.
Para o utilizador comum - fora da UE - foram então apresentadas duas opções - aceitar os novos termos ou deixar de usar os serviços do WhatsApp. Para os desatentos, isto era ultimato na verdadeira aceção da palavra, sem hipótese de escolha.
O WhatsApp havia "ultrapassado a linha" desde 2016
A pedra de toque reside, contudo, num breve trecho onde é dada a possibilidade de o utilizador optar por não ter os dados do seu perfil de WhatsApp partilhados com o Facebook. Partilha esta que seria feita para melhorar a publicidade dirigida (os target ads) bem como os "produtos e experiências do Facebook", nas palavras da própria rede social.
Como aponta (e bem) a Wired, isto causou a confusão nos utilizadores e em várias publicações que não resistiram ao espírito sensacionalista. A assunção geral indicava que o WhatsApp tinha finalmente cruzado a linha não cruzável, obrigando o utilizador a partilhar dados com o Facebook, sem alternativa a não ser apagar a conta.
Contudo, a nova política de privacidade - fora da UE - reflete apenas as práticas que vinham a ser aplicadas desde 2016, afetando a maioria dos mais de dois mil milhões de utilizadores em todo o Mundo.
A partilha de dados com o Facebook começou em 2016
Agora o mundo acordou, mas as práticas datam de 2016 - fora da UE. Como refere a Wired, a primeira alteração à política de privacidade do WhatsApp - após a sua aquisição pelo Facebook em 2014 - viria a ocorrer em agosto de 2016. A partir daí começou a partilha de informação do utilizador e metadados com as empresas do grupo Facebook.
A plataforma deu então a opção aos utilizadores para não participarem na partilha de pelo menos alguns dados, algo que estava presente - bem visível - nas definições da aplicação. Entretanto, os milhões de novos utilizadores acabariam por ter as suas informações cruzadas com o Facebook em todas as ocasiões.
Em declarações à Wired, o WhatsApp enfatizou que as alterações recentes à política de privacidade não afetam as práticas que já estavam em vigor, nem o comportamento da plataforma em torno da partilha de dados com o Facebook.
Por outras palavras, o que já era feito desde 2016 continuará a ser posto em prática. Se estavam preocupados com a privacidade do WhatsApp perante a recente alteração, mas já o usam desde 2016, não se iludam. Desde 2016 que "privacidade" ganhou o significado que melhor aprouver às Empresas do grupo Facebook.
A encriptação de ponta a ponta está para ficar
Importa clarificar ao utilizador do WhatsApp - dentro e fora da UE - que a encriptação de ponta a ponta não é afetada. Não há alterações neste que é o requisito mais importante em qualquer aplicação e serviço de comunicações instantâneas.
As mensagens, fotos, imagens, música e todos os conteúdos partilhados entre A e B - ou nos grupos de WhatsApp - é apenas acessível e do conhecimento exclusivo dos participantes na conversa. Isto é, apenas o remetente e o destinatário da mensagem - com todos os conteúdos da mesma - têm acesso ao que nela versa. O teor das comunicações continua privado.
O WhatsApp e o Facebook não têm acesso às tuas comunicações. Estas passam pelos servidores da empresa num formato protegido por uma chave de encriptação - vão codificadas - sem que o tecido empresarial tenha essa chave de acesso.
Cumpre ser dito que o CEO do grupo Facebook, Mark Zuckerberg já expressou em várias ocasiões o seu desejo em aplicar a encriptação de ponta a ponta a vários dos seus serviços. Algo que reforçaria a privacidade do utilizador comum.
Algo que também obrigaria todas as plataformas do grupo Facebook a operarem de forma coordenada, requerendo uma ainda maior integração entre Facebook, WhatsApp, Instagram, Messenger e outros serviços.
As conversas são privadas, mas há outras informações valiosas
O que é dito e enviado pelo utilizador apenas a este pertence. Mas, existem outras informações mais valiosas ainda para empresas como o Facebook e a que o WhatsApp pode ter acesso de acordo com a sua Política de Privacidade.
A empresa afirma que procede à recolha de dados para "operar, fornecer, melhorar, perceber, personalizar, dar suporte, e comercializar os seus Serviços".
Isto significa - em termos latos - que o WhatsApp partilha um belo acervo de informação com o Facebook e respetivas empresas. São dados que incluem os detalhes do utilizador como, por exemplo:
- Número de telefone
- Identificadores do dispositivo móvel utilizador
- Endereço de IP
- Sistema operativo
- Versão da aplicação WhatsApp
- Como interagem com outros utilizadores
- Registos de quanto tempo e com que frequência usam o WhatsApp
- Detalhes do browser ou navegador - no WhatsApp Web
- Informações sobre o estado de saúde da bateria - em dispositivos móveis
- Operadora utilizada
- Idioma e Fuso Horário
- Dados de pagamentos e transferências
- Informações da localização
- Cookies
Estes são os principais dados colhidos pelo WhatsApp - informação que podem consultar - e partilhados com as empresas do grupo Facebook.
Não há, como referem vários colegas na área, "almoços grátis".
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