Velvet Buzzsaw: Sátira ao mundo da arte revela falta de toque artístico

Ricardo Magalhães
Tempo de leitura: 4 min.

“Terei sempre curiosidade em saber de que maneira o dinheiro afeta as pessoas…” refere Dan Gilroy, realizador de Velvet Buzzsaw. A verdade é que o dinheiro é a base da sociedade em que vivemos. Está presente em todo o lado, com relevo sobre os grandes mercados que atraem populações.

Ao passo que não podemos viver sem ele, é inegável o dano que ele causa sobre algumas pessoas. Em Velvet Buzzsaw, os personagens utilizam a arte como veículo para fazer dinheiro, sendo esta “maltratada”. Uma vez que é um filme de terror…a arte vai-se defender.

Velvet Buzzsaw segue um conjunto de pessoas ligadas ao mundo da arte, que acabam por criar uma espécie de jogo de interesses assim que oportunidades aparecem no caminho de cada um. Dessa forma, quando Josephina (Zawe Ashton) encontra uma colecção de arte, levanta-se um enorme furor à volta do seu misterioso autor e da qualidade das suas obras.

Entretanto o objectivo com que é usada desperta algo com que nenhum se tinha alguma vez deparado. Mas não por falta de aviso, esta arte é usada para fazer dinheiro, quando a vontade do seu autor seria a sua destruição após a sua morte. Então entra em cena algo sobrenatural que visa cobrar todos aqueles que se serviram indevidamente desta arte.

Velvet Buzzsaw reforça a aposta da Netflix no género de terror

Velvet Buzzsaw é apenas mais um filme na geração de terror que a Netflix tem lançado nos últimos tempos. Ao propósito, Velvet Buzzsaw segue Bird Box neste género. Ao passo que Bird Box tem juntado bastantes fãs, Velvet Buzzsaw tem tido opiniões mais mistas.

Nesse sentido tenho de ir contra a corrente, e achei Velvet Buzzsaw bem superior a Bird Box. No entanto, acho que ambos os filmes ficaram bem aquém do hype que a Netflix lhes incutiu. Certamente ambos os filmes partilham personagens fracos, mas Bird Box consegue destacar-se (pela negativa) pela maneira como a sua história é um grande bluff. Com efeito, é mesmo caso para dizer que Bird Box foi (na minha opinião claro) um caso de “a montanha pariu um rato.”

Mas voltando a Velvet Buzzsaw, o filme apresenta também diversos problemas. Não só a sua história se desenvolve a um ritmo lento (e em diversos pontos, maçante) como a maioria das escolhas tomadas é pouco criativa.

Na minha opinião, o grande problema de Velvet Buzzsaw passa pelos seus personagens. Nesse sentido, todos são pessoas fúteis, mesquinhas, sempre à procura de servirem os próprios interesses acima de tudo o resto. Enfim, é difícil alguém conseguir identificar-se com algum dos personagens. Mas então apercebi-me, este era mesmo o objectivo de Dan Gilroy!

Os personagens supérfluos pretendem "vilanizar" aqueles que se aproveitam da arte.

Acima de tudo Velvet Buzzsaw é uma crítica a todos os críticos de arte e àqueles que se aproveitam da arte para outros fins. Dessa forma, era difícil perceber esta sátira criando personagens com que qualquer um se possa identificar. A fim de expor este lado deste media, era necessário tornar estes personagens “vilões”.

Mas há um personagem que forma a excepção a este caso. Inegavelmente a personagem Coco, interpretada por Natalia Dyer (a Nancy Wheeler de Stranger Things) é quem acaba por andar no meio do jogo de interesses dos restantes personagens. Com a finalidade de conseguir entrar no mundo da arte, Coco acaba por ser apenas mais um peão de quem todos se tentam servir.

No entanto, o seu papel acaba por ser tão “escasso” que é difícil torcer afincadamente pelo seu sucesso. Enfim, os personagens tinham de ser escritos desta forma para a crítica fazer sentido…mas o filme sofre por isso.

Analogamente, achei que o terror também não foi utilizado da melhor maneira. Aliás, Velvet Buzzsaw acaba por ser um drama que é visitado esporadicamente por terror. E quando este género aparece no filme, achei que foi algo decepcionante. Certamente que um filme em que a arte pode ganhar literalmente vida podia arranjar maneiras mais interessantes de incluir terror na história.

Por outro lado, também a comédia marca a sua presença ao longo do filme. Sobretudo para gozar do mundo artificial e supérfluo em que os personagens vivem. Assim, a comédia, não acertando a maior parte das vezes nas suas intenções, conseguiu soltar uma ou duas gargalhadas.

Velvet Buzzsaw apesar de tudo, apresenta boas interpretações.

Em contrapartida aos personagens com quem não nos conseguimos identificar estão as atuações. Jake Gyllenhaal e Rene Russo apresentam excelentes interpretações. Certamente Velvet Buzzsaw marca uma oportunidade diferente para Jake Gyllenhall. O ator que está habituado a papéis mais “pesados” aqui interpreta o excêntrico crítico, Morf Vanderwalt.

Apesar de entender a maioria das escolhas que foi feita no filme, para mim fizeram o filme sofrer. Todavia entendo que Velvet Buzzsaw tenha o seu público-alvo, e que para alguns terá mesmo acertado em cheio.

Todavia, a Netflix continua com um trajecto de hit-or-miss nas suas produções. Tanto conseguem produzir um filme capaz de chamar a atenção da academia (Roma), como um que acaba por ser um flop total, sim estou a falar principalmente de ti, Bird Box (acho que já perceberam que não gostei mesmo nada do filme…).

Para concluir, Velvet Buzzsaw está disponível para todos os assinantes da Netflix, e quem sabe, apesar das opiniões mistas, não será o filme perfeito para ti.

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