Depois de anos confinada à América do Norte, a Lyft prepara-se finalmente para atravessar o Atlântico — e fá-lo com estilo. A empresa, uma das maiores concorrentes da Uber, anunciou um acordo definitivo para comprar a FREENOW, plataforma líder na mobilidade urbana europeia, por cerca de 175 milhões de euros.
A aquisição representa o maior movimento estratégico da Lyft fora dos Estados Unidos e do Canadá e pode muito bem marcar o início de uma nova batalha pelo controlo do mercado europeu, onde a Uber reina há vários anos.
O que muda para os utilizadores?
Para já, nada. Pelo menos é isso que garantem ambas as empresas. A experiência do utilizador na FREENOW não sofrerá alterações imediatas, mas já se fala em “novos benefícios” para passageiros e condutores. Entre as melhorias previstas, estão preços mais consistentes, tempos de espera reduzidos, transparência nos ganhos dos motoristas e novos modos de transporte integrados.
A longo prazo, as plataformas deverão ser integradas para que os utilizadores possam recorrer tanto à app da Lyft como à da FREENOW, quer estejam na Europa ou na América do Norte. Esta interoperabilidade promete facilitar a vida a quem viaja frequentemente entre continentes — um trunfo importante num mercado global cada vez mais interligado.
Táxis continuam no centro da operação
A FREENOW oferece múltiplos modos de transporte, como trotinetes, bicicletas elétricas, carros partilhados e acesso ao transporte público. Apesar disso, os táxis continuam a ser o coração da empresa, representando 90% das suas reservas brutas em 2024.
E é aqui que a Lyft vê valor: ao contrário do modelo tradicional de “apps de boleia”, este segmento de táxis está fortemente enraizado nos ecossistemas urbanos europeus, com relações estabelecidas com autoridades reguladoras, sindicatos e operadores de frotas locais. A ideia não é substituir o que já existe, mas sim potenciar — e aí, a experiência da FREENOW é crucial.
Para Thomas Zimmermann, CEO da FREENOW, este é “um grande passo em frente”, que marca o início de uma nova fase para a empresa alemã.
Entrada direta num mercado competitivo
A FREENOW nasceu como MyTaxi em 2009 e acabou por se transformar numa joint-venture entre a Mercedes-Benz Mobility e o BMW Group. A empresa é atualmente a maior plataforma de táxis digitais em várias grandes cidades europeias, como Dublin, Londres, Berlim, Madrid ou Atenas.
A Lyft entra agora num mercado extremamente competitivo, onde já operam gigantes como a Uber, a Bolt e a Cabify. A operação da Lyft prevê que a FREENOW continue a funcionar com total autonomia, mantendo a sua equipa de gestão e os cerca de 1.200 colaboradores que operam em 9 países e mais de 150 cidades — entre eles Irlanda, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Espanha.
No comunicado de anúncio da transação, o CEO da Lyft, David Risher, afirmou que esta aquisição é “um passo importante” na missão da empresa para construir a “melhor e mais focada plataforma de mobilidade do mundo”.
Uma jogada estratégica
Para a Lyft, trata-se de uma jogada estratégica que praticamente duplica o seu mercado potencial, estimado agora em mais de 300 mil milhões de viagens por ano. A estimativa é que a transação acrescente cerca de 1 mil milhão de euros às reservas brutas anualizadas da companhia.
A compra da FREENOW deverá ser finalizada no segundo semestre de 2025, sujeita às aprovações regulamentares habituais. Até lá, a Lyft continua a acelerar, alimentada por um ano recorde em 2024, com lucros GAAP inéditos, reservas brutas históricas e uma geração de fluxo de caixa que a coloca numa posição privilegiada para crescer — agora também na Europa. A Uber que se cuide.
