Os 30 são os novos 20? E os 40, os novos 30? Se já ouviste algo do género e partilhas dessa sensação, fica a saber que não estás sozinho. Um novo estudo da Universidade Humboldt de Berlim afirma que, de facto, a perceção acerca da idade em que somos considerados velhos tem aumentado ao longo das gerações.
"Ah, mas na tua idade, eu já tinha..."
A verdade é que a expressão acima não se aplica a nenhuma interação entre diferentes gerações. Além das diferenças nos cenários económico e político, o avanço da ciência e o consequente aumento da expetativa de vida fizeram com que as "metas para adultos" ou "metas para a terceira idade" mudassem. E com tudo isso, mudou também a idade em que nos consideramos velhos.
É isso que explica o novo estudo da Universidade Humboldt de Berlim, publicado na revista Psychology and Aging. Os investigadores citam ainda outros fatores que influenciam nesta perceção.
“Devemos estar cientes de que as conceções e perceções do ‘velho’ mudam ao longo do tempo histórico e que as pessoas são bastante diferentes no que diz respeito a quando pensam que a velhice começa, dependendo da sua idade, da sua geração, mas também da sua saúde, etc.”, explicou o Dr. Markus Wettstein, coautor do estudo.
O estudo em questão teve início em 1996 e entrevistou um total de 14.056 adultos de meia-idade e mais velhos, nascidos entre 1911 e 1974. Para a análise, os participantes responderam à pergunta “Com que idade você descreveria alguém como velho?” entre 1 e 8 vezes durante um período de 25 anos, quando tinham entre 40 e 100 anos. Os resultados revelaram que o ponto em que se pensa que a velhice começa aumentou.
Os resultados da pesquisa
“Para aqueles que nasceram em 1931, a perceção do início da velhice é aos 74 anos, quando têm 65 anos. Para aqueles que nasceram em 1944, é cerca de 75 anos, quando têm 65 anos”, detalhou Wettstein.
Ou seja, quando integrantes de gerações distintas tinham 65 anos, a sua perceção sobre o início da velhice já se distinguia em 1 ano. Os investigadores perceberam ainda que aqueles nascidos em gerações posteriores mudam mais os objetivos. Durante a transição dos seus 64 anos para os 74, pessoas nascidas em 1944 revisaram sua noção de velhice para cima em 1,9 anos. Já participantes nascidos em 1934 mudaram sua visão em menos de um mês durante o mesmo período de envelhecimento.
Os resultados indicaram que pessoas nascidas depois de 1935 percebiam que a velhice começava mais tarde na vida do que aquelas nascidas entre 1911 e 1935. Os investigadores destacam, contudo, que não houve diferença notável entre os nascidos entre 1936 e 1951 e os nascidos entre 1952 e 1974, o que poderia indicar uma estabilização desta perceção, pelo menos entre essas gerações.
“Tão velhos quanto nos sentimos”
Em entrevista ao The Guardian, Caroline Abrahams, diretora de uma organização de apoio a idosos no Reino Unido, explicou que as pessoas tendem a considerar como "velhas" aquelas que estão pelo menos alguns anos além da sua própria idade cronológica. Para ela, isso reflete a má imagem que "ser velho" adquiriu nas culturas ocidentais.
"É uma pena que isso nos impeça de viver vidas tão plenas e felizes quanto poderíamos e deveríamos nos nossos últimos anos, porque limitamos as nossas atividades e aspirações", disse ela.
Para Abrahams, o pensamento de que somos "tão velhos quanto nos sentimos" condiz muito mais com a realidade.
"A verdade é que a idade cronológica raramente é um bom substituto para qualquer coisa e quanto mais cedo percebermos isso na nossa sociedade, melhor", aconselhou.