A OnePlus está gradualmente a transformar-se na OPPO

Rui Bacelar
Rui Bacelar
Tempo de leitura: 6 min.

Fundada em dezembro de 2013 por Pete Lau e Carl Pei, a OnePlus transformou-se quase do dia para a noite num unicórnio tecnológico. A sopro de génio materializou-se com o primeiro smartphone da empresa chinesa, o One.

Em 2020, contudo, a empresa sofreu mais alterações que em toda a sua história até à presente data. Outrora comprometida exclusivamente com os smartphones topo de gama, em outubro tivemos três smartphones de gama média com pouco carisma.

A pequena OnePlus foi bem sucedida onde as gigantes tombaram

Até 2019 o foco da empresa era claro. Entregar aos utilizadores uma experiência premium com produtos de incrível relação custo benefício. Naturalmente, conforme a empresa foi crescendo, também as margens de lucro acompanharam essa tendência.

A OnePlus conseguiu, aliás, aquilo que a Xiaomi sonha e que se viria a revelar a caixa de Pandora da Huawei e ZTE. A OnePlus, por outro lado, entrou com sucesso no terceiro maior mercado mundial de smartphones, os Estados Unidos da América.

Fê-lo com ímpeto, ambição e uma pitada de ingenuidade que tão frequentemente vemos nas startups de Silicon Valley. Foi com a geração OnePlus 7, então desdobrada no modelo standard e no modelo premium, o Pro, mas certo é que o fez!

A empresa sediada em Shenzen crescia e foi bem acolhida nos EUA durante a administração Trump. Paremos um pouco para refletir nessas palavras, recuperando à memória a guerra comercial entre a China e a esfera de influência norte-americana.

Os consumidores procuravam (e procuram) smartphones mais baratos, que não abdiquem de elementos-chave ou comprometam nem o desempenho, nem o design. A resposta consensual? Equipamentos da OnePlus, pelo menos até ao início de 2020.

A OnePlus é a mais ocidentalizada das (grandes) marcas chinesas, do marketing da empresa à interface própria.

A Oxygen OS bate a Google no seu próprio jogo

Altamente personalizável e orgulhosamente democrático, o sistema operativo Android adquire vários sabores e interpretações que o tornam não indicado para todos os consumidores. Consoante as skins, o Android pode ser complicado para alguns e confuso, ou mesmo inseguro para outros, especialmente para os menos versados nas lides da tecnologia.

Assim, o mercado Android apresenta-nos dois caminhos, o da personalização e o da crueza. O primeiro encontra perfeita representação na One UI da Samsung, ou na EMUI da Huawei e MIUI da Xiaomi, skins com grande dose de personalização. O segundo, na implementação pura feita pela Google nos seus Pixel, ou pela OnePlus com a sua interface, a Oxygen OS.

Sem desvirtuar os méritos de interfaces mais personalizadas, a preferência pela simplicidade sempre pautou as minhas escolhas. Na Oxygen OS encontrei leves e úteis adições ao Android "puro" que considero em falta nos smartphones da linha Pixel.

Não que pudesse comprar smartphones Pixel em Portugal, mesmo que assim o desejasse, a Google não nos dá essa opção. Portanto, o mercado Android precisa da OnePlus, sobretudo o mercado luso.

Há Nord, mas perdeu-se o norte

Apesar das inconsistências que lhe podem ser apontadas, a OnePlus sob direção de Carl Pei e Pete Lau sempre demonstrou ter um rumo claro. O desempenho e velocidade, a relação custo benefício e o apelo dos magnânimos flagships.

Coloco o dedo na ferida com o OnePlus 2, ou a peculiar experiência do OnePlus X, o primeiro inquinado por algumas falhas, o segundo uma pérola, ou uma vulgaridade consoante as fontes. A marca experimentou várias fórmulas na sua infância, mas foi rápida a adaptar-se, a ouvir os utilizadores e a escolher um caminho bem definido, trilhando-o prontamente.

Volvidos dois anos após o repúdio público da marca aos smartphones de gama média, eis que em 2020 o dito passa por desdito. Ao Nord em julho último seguir-se-iam dois smartphones deslavados a que só as promoções de Black Friday sopram algum interesse.

O lançamento do OnePlus Nord foi o prenúncio de um terramoto da empresa, sendo os N10 e N100 as suas réplicas.

Carl Pei deixou a OnePlus, Pete Lau "regressou" à OPPO

Em outubro de 2020 o co-fundador e rosto da marca efetivou a sua saída. Carl Pei, sete anos após ajudar a criar a marca, procura agora novos desafios. Antes disso, em setembro de 2020, Pete Lau assumiria um importante cargo de gestão no seio da casa-mãe, a OPPO. Atualmente, Pete Lau está incumbido de aproximar a OnePlus da OPPO e também da Realme.

A OnePlus pode ser vista como empresa satélite da OPPO, até então com bastante independência. No entanto, estas empresas nunca foram propriamente transparentes quanto aos seus laços familiares e relações operacionais.

Mais ainda, importa ter presente o fato da Vivo, Realme, OPPO, portanto também a OnePlus, pertencerem à multinacional BBK Eletronics. É uma densa teia de relações, mas cabendo a última palavra à direção do supracitado conglomerado empresarial.

A BBK esventrará sem rodeios a quota de mercado da Huawei

Somando o volume de vendas das empresas que pertencem à BBK, estas igualam ou superam as vendas registadas pela Huawei, empresa que chegou inclusive a ultrapassar a Samsung e a liderar o mercado durante o último verão.

Agora, com o desaire da Huawei a fazer-se sentir na Europa, caberá à mais ocidentalizada marca chinesa suprir esse "vazio de poder". Por outras palavras, a OnePlus será instrumental, a par da OPPO que já investe de forma séria em Portugal.

Em 2020 a OnePlus já lançou tantos smartphones baratos e de gama média como flagships ou topos de gama. Os sinais são claros e apesar de não existir nada de intrinsecamente errado ou problemático com os N10 e N100, há uma clara mudança de prioridades.

Passamos da aposta em velocidade para a primazia da quantidade

Certo é que a empresa colocava poucos modelos por ano no mercado, apesar do ciclo de renovação semestral. Mesmo ao dividir-se com a versão base, versão Pro e, mais tarde, a versão "T", continuavam a ser (apenas) três smartphones por ano.

Agora somam-se mais três, com o mais barato a ser o N100, essencialmente uma cópia do OPPO A53, ambos com o mesmo processador Snapdragon 460, bateria de 5 000 mAh e ecrãs a 90 Hz, salvando-se pela Oxygen OS.

O que restará da essência OnePlus em 2021?

E se até agora todos os dispositivos OnePlus deixavam o consumidor satisfeito com o desempenho e atributos, agora os Nord justificam a sua existência por serem baratos. A OnePlus passará a ser mais uma fabricante Android no meio de tantas.

Com a saída de Carl Pei, um dos líderes icónicos, a OnePlus corre o risco de uma crise de identidade e, talvez no pior dos cenários, uma assimilação completa pela OPPO. Assim, resta-nos esperar que a qualidade continua a ser um dos vetores empresa.

Em 2020 observamos uma forte mudança de paradigma. Em 2021, contudo, começaremos a ver o impacto estratégico da nova orientação e a avaliar a extensão da influência exercida pela OPPO.

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Rui Bacelar
Rui Bacelar
O Rui ajudou a fundar o 4gnews em 2014 e desde então tornou-se especialista em Android. Para além de já contar com mais de 12 mil conteúdos escritos, também espalhou o seu conhecimento em mais de 300 podcasts e dezenas de vídeos e reviews no canal do YouTube.