Melhor do que integrar o governo dos EUA é ter um cargo muito próximo do Presidente, mas sem as obrigações e a exposição política normalmente associados a quem o integra diretamente.
Acertaram assim os comentadores que previam a ligação de Elon Musk ao novo executivo norte-americano liderado por Donal Trump, gozando dos privilégios dessa proximidade, mas sem as obrigações previstas para os membros governamentais.
O fundador da Tesla, dono do X e homem mais rico do mundo irá co-liderar um novo departamento de “eficiência governamental” promovido por Donald Trump - Department of Government Efficiency, ou DOGE -, cargo que irá partilhar com o milionário republicano Vivek Ramaswamy.
Pelo facto de este departamento não ser uma entidade equiparada a um ministério, Musk não terá assim de ser aprovado pelo Congresso nem estar sujeito a uma avaliação de conflitos de interesses.
Conflitos de interesses em causa
A forma como o novo departamento de “eficiência governamental” vai funcionar está ainda por esclarecer, apesar do que Trump afirmou durante a campanha eleitoral: “Como primeira ordem de trabalhos, esta comissão irá desenvolver um plano de ação para eliminar totalmente a fraude e os pagamentos indevidos no prazo de seis meses”.
Como poderão esses objetivos ser atingidos ainda não está claro, o que não invalida que alguns dos principais meios de informação norte-americanos tenham apontado para possíveis conflitos de interesses.
Segundo o Observador, “o The New York Times chama a atenção para o facto de Trump não ter esclarecido como é que Elon Musk poderá liderar esta nova agência sem criar conflitos de interesses”. Os especialistas falam não só dos contratos federais de mais de 10 mil milhões de dólares celebrados com a SpaceX nos últimos anos, como referem as duas dezenas de investigações e processos judiciais sobre empresas como a Neuralink e a SpaceX, levadas a cabo por algumas agências federais.
Como possível exemplo desses conflitos de interesses, o Observador fala ainda das semelhanças do acrónimo DOGE com a dogecoin, a criptomoeda normalmente promovida por Elon Musk e cujo valor disparou 50% nos dias anteriores ao anúncio, de acordo com informações da Bloomberg.
Cortar nas despesas e ondas de choque
“Juntos, estes dois grandes norte-americanos vão traçar um caminho para a minha administração desmantelar a burocracia governamental, reduzir a regulamentação excessiva, cortar nas despesas desnecessárias e reestruturar as agências federais”, afirmou Donald Trump em comunicado.
Após ser conhecida a nomeação, Musk apressou-se a afirmar que pretende reduzir em um terço as despesas do Governo, aproveitando para lançar os primeiros avisos públicos. E o próprio Donald Trump fez questão de reproduzir as palavras ditas por Elon Musk, quando afirmou que “isto vai enviar ondas de choque através do sistema e de qualquer pessoa envolvida no desperdício do Governo, que é muita gente!”
A CNN refere que, já durante a campanha eleitoral, o dono da Tesla tinha prometido cortar, “pelo menos”, 2 biliões de dólares nas despesas governamentais. “O vosso dinheiro está a ser desperdiçado e o Departamento de Eficiência Governamental vai resolver isso”, afirmou Musk num comício, prometendo "tirar o governo das vossas costas e da vossa carteira”.
A estas declarações Vivek Ramaswamy juntou a sua dose de provocação através da sua conta no X, defendendo o fim das agências federais: “FECHEM-NAS” - escreveu.
Ainda é cedo para perceber e quantificar o que Elon Musk poderá ganhar com o novo cargo no DOGE. Mas entre a eliminação da burocracia governamental, a agilização dos processos na administração pública e a redução da 'regulamentação excessiva' será de esperar mais eficiência para as empresas - incluindo as de Musk.
E há sempre a exposição mediática que o patrão da Tesla gosta cultivar e que, como no recente caso das Dogecoins, pode trazer ganhos adicionais.