Quando pensamos em intervenções cirúrgicas e no combate ao cancro, não tendemos a pensar no antigo Egito. No entanto, o mais fascinante de tudo é que os cientistas descobriram que, em 2 687 a.C, já se lutava contra este tipo de doenças.
De acordo com a Sky News, o estudo teve como foco dois crânios humanos, com milhares (e milhares) de anos. O curioso nesta análise é que se encontraram evidências de que, de facto, houve intervenções com o objetivo de travar o cancro.
Estima-se que os crânios pudessem ser de até 2 345 a.C
Efetivamente, no setor da medicina, os egípcios sempre foram conhecidos pela sua grande capacidade de tratamento de doenças. No entanto, nada que fizesse prever algo tão evoluído, tendo em conta a época em questão.
Como explica o autor do estudo, Edgard Camaros, “esta descoberta é uma evidência única de como a medicina egípcia antiga teria tentado lidar ou explorar o cancro há mais de 4 000 anos”.
O investigador da Universidade de Santiago de Compostela vai mais longe e acrescenta que é um dado incrível, naquele que é o estudo da história da medicina.
Posto isto, torna-se interessante para os cientistas entender “o papel do cancro no passado” e o “quão prevalente” este era. Quem o considera é Tatiana Tondini, cientista da Universidade de Tübingen.
Quanto aos crânios analisados, um deles era pertencente a um homem entre os 30 a 35 anos, que viveu algures entre o período que compreende 2 687 e 2 345 a.C. O segundo crânio é de uma mulher com idade superior a 50 anos, que viveu entre 663 a 343 a.C.
Ao microscópio, identificaram-se cortes no crânio que indicam que houve uma tentativa de cura
Sendo assim, pode surgir uma questão: passado tanto tempo, como se identifica vestígios cancerígenos? A resposta é simples: ao microscópio, é notória a destruição do tecido, sendo que são observáveis 30 lesões.
A grande curiosidade vem a seguir: nessas mesmas lesões que foram identificadas microscopicamente, viam-se alguns cortes. Previsivelmente, de médicos egípcios da altura, na tentativa de curar os pacientes.
Pela estrutura do corte, Tondini acredita que estes deverão ter tentado atuar com um objeto pontiagudo. De qualquer das formas, “choque” poderia ser uma palavra adequada para descrever o que os cientistas sentiram ao observar os crânios em questão.
“Quando observamos pela primeira vez as marcas de corte no microscópio, não podíamos acreditar no que estava à nossa frente” - confessor a investigadora da Universidade de Tübingen.
Nesse sentido, o coautor do estudo, professor Albert Isidro, também concluiu com espanto que os egípcios, na altura, já tentavam desmistificar questões relacionadas com o cancro.
Um dos crânios poderá ter sido intervencionado com sucesso
Vistas bem as coisas, isto pode levar a algumas reflexões. Afinal de contas, costuma associar-se o cancro a algumas práticas dos tempos modernos, mas casos como este mostram que a doença já existia antes.
Por isso, poder-se-á colocar a hipótese de que o envelhecimento ou até algumas condições ambientais podem ser o fator chave que desencadeia este tipo de doença. De qualquer modo, importa ainda destacar o mais importante: os resultados do tratamento.
Segundo a Sky News, o estudo permite observar que o crânio feminino deverá ter fortes probabilidades de ter sobrevivido, na época. Ainda assim, a ausência de historial clínico faz com que seja difícil tirar conclusões objetivas sobre a medicina da altura.
Por tudo isto, os investigadores acreditam que se trata de um passo de gigante na compreensão da história do cancro na humanidade. Apesar disso, a opinião mais unânime é que serão precisos novos estudos para formular hipóteses mais rigorosas e certeiras.