Novos óculos de IA podem revolucionar a vida de pessoas com deficiência visual

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Tempo de leitura: 3 min.

Um grupo de cientistas chineses pode ter dado um passo de gigante na forma como pessoas com deficiência visual se orientam no mundo. Através de um sistema de inteligência artificial wearable, os investigadores desenvolveram um par de óculos especiais que pode “substituir parcialmente os olhos”, nas palavras de um dos autores do estudo.

A inovação pode dar autonomia a quem vive com limitações visuais. E os primeiros testes mostram que a ideia não é apenas promissora. É eficaz.

Um sistema que vê por quem não pode

óculos de IA
Imagem: Nature Machine Intelligence

O dispositivo foi desenvolvido por uma equipa de engenheiros da Universidade Jiao Tong de Xangai, do Laboratório de Inteligência Artificial de Xangai, da Universidade Normal do Leste da China, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong e da Universidade Fudan. Para “ver por quem não pode”, combina óculos com câmara integrada, IA em tempo real e feedback sensorial.

A câmara montada nos óculos capta imagens do ambiente à sua volta e transmite essa informação a um pequeno computador, que processa os dados com recurso a algoritmos de aprendizagem automática. A IA, então, reconhece obstáculos, portas, paredes, móveis e até pessoas, e emite alertas sonoros e vibrações que orientam o utilizador na direção correta.

óculos com IA
Imagem: Nature Machine Intelligence

Para completar o sistema, os investigadores desenvolveram também adesivos flexíveis de "pele artificial" que o utilizador coloca nos pulsos e dedos. Esses adesivos vibram quando há um obstáculo nas proximidades — entre 5 e 40 centímetros — ou quando o utilizador está prestes a agarrar um objeto.

A tecnologia, descrita num artigo publicado na revista Nature Machine Intelligence, já passou por ensaios práticos com 20 participantes com deficiência visual. E os resultados foram animadores.

25% mais rápidos do que com a bengala

óculos IA
Imagem: Nature Machine Intelligence

Durante os testes, os voluntários usaram os óculos com IA para navegar num labirinto interior com 25 metros de comprimento. Na comparação com o uso da tradicional bengala branca, os resultados mostraram uma melhoria de 25% na distância percorrida e no tempo de navegação com o novo sistema.

Em cenários reais, como andar na rua ou circular por uma sala cheia de móveis, a tecnologia também provou estar à altura, mantendo o desempenho e facilitando a mobilidade dos participantes. Na verdade, é justamente em ambientes urbanos densos, onde a bengala tem um alcance limitado, que a nova tecnologia se mostrou especialmente útil.

"Este sistema pode substituir parcialmente os olhos", afirmou o coautor do estudo, Leilei Gu, investigador de IA da Universidade Jiao Tong de Xangai, na China.

De acordo com o investigador, neste momento, a configuração é um protótipo. Para torná-la mais útil na prática, a equipa ainda precisa de garantir que a tecnologia seja altamente fiável e segura.

Mais leve, mais pequeno e (talvez) invisível

Os investigadores estão já a trabalhar numa versão mais compacta e prática da tecnologia. A ambição vai ao ponto de incluir a câmara numa lente de contacto inteligente. Embora seja um cenário futurista, permitiria que o dispositivo passasse despercebido, sem comprometer o conforto ou a autoestima do utilizador.

A abordagem chama a atenção por combinar estímulos auditivos e tácteis de forma simultânea, permitindo que os utilizadores percebam o que está à sua volta de forma mais natural e intuitiva.

Para Eduardo Fernández Jover, médico e neurocientista da Universidade Miguel Hernández, em Espanha, o projeto é “uma prova de conceito promissora”, mas ainda precisa de ser testado num grupo mais vasto e diversificado.

Para evoluir, os investigadores reconhecem que será essencial colaborar com grandes hospitais oftalmológicos e com a comunidade cega, para refinar o design, adaptar o sistema a vários perfis de utilizadores e garantir a máxima segurança em ambientes externos — onde a complexidade aumenta substancialmente face aos cenários de laboratório.

Apesar dos desafios pela frente, este projeto chinês mostra como a inteligência artificial pode, de forma muito prática, melhorar a vida de quem mais precisa.

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Sabryna trabalha com comunicação há mais de dez anos e especializou-se a produzir conteúdos e tutoriais sobre aplicações e tecnologia. Consumidora de streamings e redes sociais, adora descobrir as novidades do mundo.