Novo estudo abala a nossa compreensão do primeiro computador analógico do mundo

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
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Resgatado por mergulhadores no Mediterrâneo grego em 1901, a máquina de Anticítera ou mecanismo de Anticítera, como foi nomeado, é considerado o computador analógico e o planetário mais antigo de que temos conhecimento, com sua criação a datar do século I a.C. na Grécia romana.

Até agora, pelo menos. Investigadores da Universidade de Glasgow publicaram um novo estudo que desafia a compreensão ortodoxa da forma e da função do mecanismo.

Investigadores questionam a função do mecanismo

mecanismo de Anticítera
O Mecanismo de Anticítera, acredita-se ser o mais antigo dispositivo de computação mecânica sobrevivente, pode ser visto no Museu em Atenas, Grécia (Imagem: Shutterstock / Alexandros Michailidis)

Composto de madeira e bronze, o mecanismo de Anticítera foi encontrado partido em mais de 80 fragmentos. Com uma origem datada de em torno de 2200 anos atrás, trata-se de uma espécie de modelo do sistema solar movido à mão, composto de anéis concêntricos rotativos.

Estudada por vários arqueólogos e cientistas há anos, a descoberta é amplamente considerada o exemplo mais antigo de um computador analógico e de calendário solar. O principal motivo é que um de seus anéis, o anel do calendário, tem 365 buracos, o que representaria o calendário solar.

Contudo, conforme reportou a página Artnet, um novo estudo de investigadores da Universidade de Glasgow, publicado no The Horological Journal, está a desafiar essa compreensão ao afirmar que o anel já teve 354 buracos, o que corresponde a um calendário lunar de 354 dias.

“Apresentamos uma nova análise das posições dos buracos abaixo do anel de calendário do mecanismo de Anticítera [...] Um anel de 360 buracos é fortemente desfavorecido, e um de 365 buracos não é plausível, dadas as suposições do nosso modelo”, explicam Graham Woan e Joseph Bayley no seu artigo.

Outros estudiosos resistem à nova teoria

mecanismo de Anticítera
Ilustração 3D da parte da frente do mecanismo de Anticítera (Imagem: Shutterstock / Javier Jaime)

Outro estudiosos estão resistentes à nova teoria. Um dos motivos é que o mecanismo já contém um anel que corresponde a um calendário lunar, sendo este baseado no ciclo Metónico de 19 anos. A adição de um segundo anel menos preciso, portanto, parece ser algo redundante e pouco provável.

Por outro lado, Woan e Bayley, que são astrónomos especializados em estudar ondulações minúsculas no espaço-tempo, analisaram imagens de raios X do mecanismo para "deslocar a suposição de um calendário de 365 dias de um século no mecanismo de Anticítera".

Com base nas medições alcançadas pelo YouTuber horologista Chris Budiselic, num estudo de 2020, Woan e Bayley criaram um modelo que compara suas posições com aquelas colocadas em um círculo e executaram-nas no seu software astronómico, que utiliza probabilidade para quantificar a incerteza em dados incompletos.

"Utilizando todos os dados, a hipótese dos 354 buracos é cerca de 229 vezes mais provável do que 360 buracos, que eles também consideraram, e muito mais provável do que 365 buracos”, escreveram os pesquisadores.

As contradições académicas em torno do mecanismo de Anticítera e já não são uma novidade. O mistério do mecanismo, inclusive, foi recentemente abordado no filme Indiana Jones e o Marcador do Destino, de 2023.

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Sabryna trabalha com comunicação há mais de dez anos e especializou-se a produzir conteúdos e tutoriais sobre aplicações e tecnologia. Consumidora de streamings e redes sociais, adora descobrir as novidades do mundo.