O Alzheimer, doença neurodegenerativa crónica, é uma doença que afeta muitas pessoas. Enquanto se vão desenvolvendo medicamentos cada vez mais eficientes no combate ao Alzheimer, há uma startup a desenvolver um headset que ajuda na luta contra o declínio cognitivo.
A empresa é norte-americana e chama-se Cognito Therapeutics. Num estudo recente, publicado na revista Frontiers in Neurology, foi demonstrado que este tratamento é seguro, sendo que pode ser altamente benéfico para quem sofre de Alzheimer.
De acordo com Murali Doraiswamy, professor de psiquiatria em Duke, trata-se de um projeto altamente promissor. Ainda assim, o especialista em Alzheimer realça que é preciso ter alguma cautela no otimismo, já que o processo ainda está em desenvolvimento (via Wired).
O dispositivo pode ser algo como nunca antes visto
Ainda assim, o próprio denota que, a confirmar-se, seria algo “totalmente diferente” de tudo o que já se viu antes. O headset em questão, chamado Spectris, funciona através da emissão de luzes e sons piscantes. Este aparelho, composto por um par de óculos e fones, ajuda no estímulo das ondas gama do cérebro.
As ondas gama apresentam uma frequência rápida e associam-se, geralmente, a habilidades como o pensamento e a memória. As pessoas que sofrem de Alzheimer, naturalmente, apresentam menos ondas deste género.
Num ponto de vista mais técnico, sabe-se que o Spectris produz luz e som a 40 hertz. Como refere o Wired, as ondas cerebrais resultam de inúmeras conexões de neurónios, que acabam por, posteriormente, comunicar através de sinais elétricos.
O Spectris pretende tornar as conexões entre os neurónios mais fortes
A startup americana acredita que tem a capacidade de retardar a degeneração cerebral dos doentes, tornando as conexões entre os neurónios mais fortes. De forma a testar esta inovação, a Cognito reuniu 74 pessoas que sofrem da doença em questão.
Dos doentes com Alzheimer, uns foram sujeitos aos estímulos da Cognito, enquanto outros foram sujeitos a placebo. Todos eles tiveram de usar o headset durante uma hora, todos os dias, durante seis meses.
Os resultados foram bastante animadores. Tal como dá conta o portal de notícias do Wired, os que utilizaram a tecnologia da Cognito “mostraram uma desaceleração de 77% no declínio funcional”, face aos que usaram placebo.
Outro resultado positivo acerca deste teste relaciona-se com a diminuição, em 76%, dos doentes com dificuldades cognitivas. Entre estas, englobam-se, por exemplo, a expressão oral e escrita, assim como a memória, concentração e capacidade de orientação.
Em 6 meses, reduziu-se em 69% dos participantes a atrofia cerebral
Por fim, este estudo de 6 meses permitiu, ainda, concluir que, com o Spectris, reduziu-se em 69% a atrofia cerebral. Esta atrofia, ou encolhimento, acontece principalmente quando as redes de neurónios se rompem. Isto leva a que certas partes do cérebro vão ficando mais pequenas.
Pode-se comparar a utilização deste aparelho como se fosse exercício físico. A diferença é que, em vez de se treinarem os braços ou as pernas, como no ginásio, treina-se o cérebro e a sua capacidade de dar resposta aos estímulos mais variados.
De acordo com a mesma fonte de informação, é na acumulação de amilóide que se encontra a principal teoria que explica o Alzheimer. No ensaio da Cognito, uma das observações feitas é que não se encontrou uma redução visível nestas placas, nas imagens cerebrais dos participantes.
Para o diretor de iniciativas científicas globais da Associação de Alzheimer, a amostra é curta para grandes conclusões
Assim, a startup usou uma técnica baseada em tomografia por emissão de pósitrons, que foi capaz de descobrir que a estimulação elimina um estilo mais “difuso” de amilóide.
Na comunidade científica, o projeto é visto com bons olhos, mas, mais uma vez: é preciso cautela. Quem também o considera é Christopher Weber, diretor de iniciativas científicas globais da Associação de Alzheimer, que realça que a amostra é demasiado pequena para grandes conclusões.
Na segunda fase de testes, participam 500 pacientes
Segue-se, nos próximos tempos, uma nova fase de testes, onde a amostra é maior. Desta feita, são 500 participantes, ao todo, que usarão o dispositivo, todos os dias, durante cerca de um ano.
Associado à utilização deste headset, a Cognito realça que não há efeitos secundários evidentes. Ainda que alguns pacientes tenham relatado sintomas de dores de cabeça ou tonturas, estes não foram muito persistentes.
Assim sendo, as perspetivas são boas, no entanto é preciso continuar a testar. De acordo com Murali Doraiswamy, professor de psiquiatria em Duke, o mais importante, nesta fase, é obter resultados positivos no segundo grande teste.