Governo da China propõe iniciativa que pode tramar a Huawei

Rui Bacelar
Rui Bacelar
Tempo de leitura: 4 min.

A proposta feita pelo governo chinês intitula-se como Iniciativa Global de Proteção de Dados e visa proibir práticas de que a China e a Huawei são acusadas de praticar. O intuito, aparente, é nobre, mas o anúncio causou incredulidade em vários meios.

Segundo o The Register, a proposta visa proibir infraestruturas de hacking financiadas pelos Estados, ou a instalação de backdoors nos mais variados equipamentos. Um total de oito pontos com vista à prossecução do bem comum e de um futuro harmonioso.

Iniciativa Global para a Proteção de Dados

A China espera que o mundo adote os pontos por si enunciados, tanto os demais Estados e setor público, bem como as entidades privadas. O "código de conduta" foi hoje revelado pelo conselheiro de Estado e Ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi.

Aproveitando o Seminário Internacional de Administração Digital, o membro do governo chinês deu a conhecer esta surpreendente iniciativa. Vale referir que a China tem apenas dez conselheiros de estado, compondo um órgão similar a um gabinete.

Serve isto para reforçar a importância e autoridade de Wang Yi no governo da China, estando assim assegurada a importância e seriedade da proposta. Note-se que a China não encarregou um mero funcionário de baixa patente esta tarefa.

Os 8 pontos de Yi para a Proteção de Dados

  1. Gerir a segurança de dados com uma atitude racional e manter uma cadeia, segura e estável, de comunicação global.
  2. Condenar a utilização das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC) para prejudicar Estados rivais, enfraquecendo as suas infraestruturas, ou roubando informações importantes.
  3. Tomar ações de prevenção e erradicação de atividades que violam a privacidade de informações pessoais. Opor-se ao abuso das TIC para levar a cabo ações de vigilância contra outros Estados, ou levar a cabo a recolha não autorizada de informações e dados pessoais de outros Estados.
  4. Sensibilizar as empresas para que respeitem o ordenamento legal dos países que as acolhem. Cessar a pressão para que as empresas domésticas armazenem os dados gerados e obtidos no estrangeiro em servidores e instâncias análogas instaladas no país de origem.
  5. Respeitar a soberania, jurisdição e administração de dados de outros Estados, evitando pedir a empresas, ou indivíduos, que forneçam os dados recolhidos nos outros Estados sem a permissão destes.
  6. Cumprir os requisitos normativos e ir ao encontro da legislação estrangeira mediante o apoio e consultadoria jurídica, ou outros meios e canais apropriados a esse fim.
  7. Produtos relacionados com as TIC e fornecedores de serviços não devem instalar backdoors nos respetivos produtos e serviços para, ilegalmente, obter acesso e/ou recolher dados do utilizador.
  8. As empresas de TICs não devem procurar interesses ilegítimos, ou tirar proveito da dependência criada nos utilizadores com os seus produtos.

A proposta foi apresentada na China

Wang Yi acredita que o mundo precisa de adotar estes pontos para assim dar resposta aos novos desafios que surgiram com a digitalização da economia global. A iniciativa, se adotada, poderá servir de catalisador à economia digital global.

O garante da proteção de dados é, para Yi, uma necessidade urgente. Para ele, o atual status quo pode colocar em risco a segurança nacional, interesses públicos e direitos pessoais, sendo o maior desafio atual.

Yi apontou também o dedo às leis nacionais inconsistentes que dificultam a implementação destes padrões de segurança digital e proteção de dados. "Para fazer frente a estas dificuldades os estados devem aumentar a comunicação e coordenação", avança a figura de Estado. "É necessário obter uma confiança mútua e aprofundar a cooperação entre Estados", acrescenta Wang Yi.

A Huawei e a posição do governo chinês

O discurso de Yi, entre outras motivações, pode ter tentado responder a algumas das acusações de que a China e a Huawei têm sido alvo. Mais concretamente, a suposição de que as tecnológicas e o governo chinês tem laços "demasiado" estreitos.

"Nós não pedimos, nem pediremos a empresas chinesas que transfiram dados colhidos no estrangeiro para qualquer órgão estatal, naquilo que seria uma violação do ordenamento legal desses países.

Em jeito de comentário, o apelo à cessação da espionagem industrial pode parecer um tanto vazio, ou sonhador. Isto, claro, sem desculpar nenhuma nação das tentações colocadas pelos grandes volumes de dados em constante circulação.

Editores 4gnews recomendam:

  • Apple confirma apresentação dos iPhone 12 a 15 de setembro
  • Xiaomi está a pensar num smartphone como nunca viste
  • Samsung quer lançar um smartphone que te vai deixar surpreendido
Rui Bacelar
Rui Bacelar
O Rui ajudou a fundar o 4gnews em 2014 e desde então tornou-se especialista em Android. Para além de já contar com mais de 12 mil conteúdos escritos, também espalhou o seu conhecimento em mais de 300 podcasts e dezenas de vídeos e reviews no canal do YouTube.