
A Sucker Punch tinha uma tarefa hercúlea em mãos ao decidir dar continuidade a um dos jogos mais aclamados da geração passada. Ghost of Tsushima foi um sucesso de vendas e, podemos dizê-lo, um marco cultural que definiu como um jogo de mundo aberto pode ser esteticamente belo e ter uma narrativamente envolvente sem se perder em mecânicas excessivas.
Após completarmos o modo história de Ghost of Yōtei, há uma ideia que fica. O estúdio respeitou o legado de Jin Sakai e ainda conseguiu criar uma identidade própria, mais selvagem e igualmente encantadora, nas terras inexploradas de Hokkaido.
O Japão de Ghost of Yōtei é outro
A ação transporta-nos para 1603, mais de 300 anos após os eventos do primeiro jogo, para a região circundante do Monte Yōtei. Aqui, deixamos de lado o código de honra samurai que tanto atormentou o protagonista anterior para assumir o controlo de Atsu, uma "Ronin" errante.

Esta mudança de perspetiva é refrescante. Atsu não luta para salvar a sua ilha de uma invasão, mas sim pela sua própria sobrevivência e vingança num território onde a lei é ditada pela pólvora e pelo aço. Para compreenderes melhor o contexto histórico e as novidades de lançamento, podes consultar o nosso artigo detalhado sobre Ghost of Yotei: o jogo, os picantes e o preço deste exclusivo PS5.
Poesia em movimento
Visualmente, o jogo é uma poesia em movimento. É verdade que, se analisarmos friamente os gráficos, Ghost of Yōtei pode não ser o colosso gráfico tecnicamente mais avançado desta geração PlayStation 5. No entanto, a direção artística compensa qualquer sobressalto técnico com uma mestria de assinalar.
A forma como o vento guia a nossa jornada, agita campos de flores coloridas e florestas densas sob a sombra imponente do Monte Yōtei, cria uma aura que nos faz esquecer a tecnologia e mergulhar na atmosfera. A iluminação volumétrica e o sistema de clima dinâmico transformam cada viagem a cavalo num momento digno de um modo fotografia. Dá vontade de estar sempre a tirar capturas de ecrã.

Jogabilidade não desilude
No que toca à jogabilidade, o combate mantém a base satisfatória do antecessor, mas com uma camada extra de diversidade. As lutas são emocionantes, viscerais e exigem precisão (que eu nem sempre tenho). A introdução de armas de fogo de época (como o mosquete) dá uma nova dimensão estratégica.
Acaba por permitir que a "nossa" Atsu controle o campo de batalha à distância antes de encurtar o espaço com a catana. Há uma fluidez nos movimentos que demonstra a evolução do motor de jogo, tornando cada duelo, seja contra bandidos ou animais selvagens, numa espécie de bailado letal.
A narrativa, embora por vezes siga estruturas familiares de jogos de mundo aberto, consegue prender-nos pela força da protagonista e pela banda sonora que nos transporta para o Japão Feudal. Apreciei particularmente os flashbacks que nos permitem voltar à infância da protagonista e perceber como, de certa forma, chegou até ali.

A música é, mais uma vez, um pilar fundamental da experiência, que oscila entre a tranquilidade do shakuhachi durante a exploração e a percussão intensa nos momentos de tensão. Não é por acaso que esta qualidade global colocou o título nas bocas do mundo e nos palcos das grandes cerimónias, num ano competitivo do The Game Awards 2025 onde teve sete nomeações, incluindo com a referida banda sonora.
Apesar dos elogios, o jogo não é isento de falhas. Algumas atividades secundárias acabam por se tornar repetitivas ao longo das horas e a inteligência artificial dos inimigos em stealth ainda deixa algo a desejar, e parece ter sido deixada um pouco de lado face ao que estava habituado no antecessor.
Uma obra de arte interativa
Estes são pormenores menores num quadro geral que é, sem dúvida, uma obra de arte interativa. Ghost of Yōtei encanta não por reinventar a roda, mas por a polir até brilhar. Deu-me uma das melhores experiências do ano com ação e aventura e que me faz querer voltar rápido ao Japão, ainda que tenha vindo de lá há pouco mais de um mês.
