"Parece que estamos a tentar justificar uma má ação ao esconderemo-nos atrás das pessoas com uma mensagem politicamente correta", escreveu um dos engenheiros do Facebook em resposta à circular interna sobre a campanha contra a Apple.
Recordamos, a propósito, a campanha de marketing lançada pela rede social a 16 de dezembro, na qual se diz defensora dos pequenos negócios e micro-empresas. No entanto, alguns dos funcionários da própria empresa não acreditam nos motivos alegados.
Facebook vs Apple, um caso de hipocrisia empresarial
Foi na semana passada que o grupo Facebook gritou de plenos pulmões o seu clamor em defesa dos pequenos negócios. Através de um manifesto que ocupava uma boa página de jornal, a rede social afirmou-se como defensora das pequenas iniciativas privadas.
Note-se ainda que a empresa de Mark Zuckerberg não se poupou a qualquer esforço. Este anúncios estão em circulação em grandes jornais e meios de comunicação norte-americanos, além de terem criado uma website em que encorajam as pessoas a "Defender os pequenos negócios". O clamor propagou-se por papel e também pelas plataformas online.
O grupo Facebook argui que as recentes alterações ao sistema operativo móvel da Apple, o iOS, vão dizimar as pequenas empresas e entidades privadas geridas por famílias ao deixarem de poder utilizar publicidade direcionada, os target ads.
A frente unida do Facebook contra a Apple
O grupo Facebook é um dos "big four" entre a Google, Amazon e Apple, empresas cotadas em vários mil milhões de dólares. São colossos da tecnologia e agora um deles lança-se em defesa das pequenas empresas.
A iniciativa, contudo, não será meramente altruísta, com alguns dos próprios funcionários ou colaboradores a acusar o Facebook de hipocrisia. De acordo com a peça avançada pela Buzzfeed News, a campanha divide opiniões no seio da própria empresa.
"Campanha que serve interesses próprios e cujos contornos roçam a hipocrisia". Este terá sido um dos comentários feitos à apresentação interna em que a gigante deu a conhecer o ter da campanha contra a Apple.
A guerra começou por causa dos avisos de privacidade no iOS 14
A pedra de toque são os novos cartões e avisos de privacidade do iOS 14. Trata-se de uma recente alteração ao sistema operativo iOS que obriga os programadores a revelar exatamente a que informações e dados do utilizador têm acesso, além de declarar o que fazem com esses dados. Note-se que estes cartões já são utilizados na App Store, a loja de apps para iPhone e iPad.
A alteração expõe a quantidade e tipo de dados a que o Facebook - e demais programadores - têm acesso. Algo que no caso da empresa de Mark Zuckerberg pode ser contraproducente e inclusive, assustar potenciais utilizadores da rede social.
Este sim, aparente ser o verdadeiro motivo que levou o Facebook a declarar "guerra" mediática à Apple. O assunto tem sido comentado nos fóruns e sistemas de comunicação interna da empresa, com vários colaboradores a sentir que os "pequenos negócios" são apenas uma fachada. Por outras palavras, uma simulação com toques de hipocrisia.
Os cartões de privacidade da Apple no iOS 14
Acima vemos o exemplo destes cartões de privacidade em ação, neste caso com a aplicação WhatsApp. Podemos ver que tipo de dados são colhidos pela empresa, as permissões necessárias e até o destino de alguns dados. É um rol assustador.
"Parece que estamos a tentar justificar uma má ação ao utilizar uma causa e mensagem nobre como escudo", comenta um dos engenheiros em jeito de resposta à circular interna. A campanha foi criada por Dan Levy, o vice-presidente do departamento de publicidade e anúncios no Facebook.
Note-se que esta não é a primeira vez que a Apple e o Facebook trocam acusações. Em 2018 Tim Cook acusaria a rede social de colher dados dos utilizadores a partir de vários pontos da Web, tudo para melhor lhes conseguir dirigir os anúncios. Mark Zuckerberg viria a público refutar as acusações do CEO da Apple, negando tal prática para aperfeiçoar os "target ads".
A hipocrisia na "defesa dos inocentes"
Agora, o grupo empresarial de Mark Zuckerberg lança-se totalmente contra a Apple, querendo colocar os pequenos empresários contra a fabricante de iPhones. É um ataque visceral e sem meias-medidas, mas que não convence alguns dos próprios colaboradores. Segundo alguns testemunhos, nada há de prejudicial nos cartões de privacidade da Apple.
Indo mais além, alguns colaboradores e funcionários do Facebook acusam a empresa de estar simplesmente a tentar convencer o público do contrário, de que a Apple quer prejudicar os pequenos negócios. Por outras palavras, criando um cavalo de Tróia.
Por fim, estima-se que este ano o Facebook arrecada mais de 80 mil milhões de dólares em receitas provenientes dos anúncios. Já numa nota negativa, o grupo de Zuckerberg é alvo de sérias investigações nos Estados Unidos da América, acusando-o sobretudo de concorrência desleal e práticas monopolistas.
Aguardamos agora por declarações ou reação da Apple.
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