A União Europeia está a seguir os passos dos Estados Unidos no que toca à imposição de restrições na tecnologia automobilística da China. Esta semana, o governo norte-americano anunciou a intenção de proibir a utilização de tecnologia chinesa que conecta automóveis à internet nas suas estradas, apontando "riscos de espionagem, vigilância e sabotagem". A comissária europeia Margrethe Vestager partilhou preocupações semelhantes, referindo-se aos veículos conectados como "computadores sobre rodas", que podem recolher e transmitir dados sensíveis.
Vestager afirmou que os serviços da UE estão a analisar o tema em conjunto com especialistas em segurança económica, sublinhando que é legítimo questionar se esta tecnologia pode ser usada para fins maliciosos. A discussão em torno da tecnologia automóvel chinesa abre uma nova frente na disputa global pelo controlo de tecnologias críticas, como a inteligência artificial, microchips e até o 5G. Tanto a UE como os EUA têm receios de que estas tecnologias possam ser usadas para espionagem ou coação económica.
Um novo capítulo no confronto económico entre o oeste e a China
A preocupação surge num contexto em que a UE já impôs, anteriormente, tarifas a veículos elétricos subsidiados pela China, para impedir que inundem o mercado europeu. No entanto, a questão da cibersegurança automóvel marca um novo capítulo, sendo a primeira vez que o foco recai especificamente sobre as ameaças digitais. Outros países, como o Canadá e o Reino Unido, também estão a considerar restrições similares.
A UE tem trabalhado, de forma discreta, em medidas para enfrentar os riscos potenciais da tecnologia chinesa nos carros importados. Uma das possibilidades é a criação de uma "toolbox" para a cadeia de fornecimento de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), semelhante à caixa de ferramentas de segurança do 5G, que levou vários estados-membros a limitar o uso de tecnologia da Huawei.
Esta "toolbox", ainda em fase de finalização, incluiria diretrizes para a conectividade de veículos elétricos e energias renováveis, no entanto, tal como outros documentos do género, não seria vinculativo. A sua eficácia dependerá da vontade dos governos nacionais de transformar essas recomendações em restrições concretas. A UE já tem um conjunto de leis sobre cibersegurança em setores críticos, como o transporte, no entanto, estas ainda não são direcionadas para países específicos.
Medidas que já revelam impacto significativo
As novas regras de cibersegurança para automóveis já começaram a ter impacto no mercado europeu. Em julho, a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa implementou um regulamento que obriga os fabricantes a garantir a proteção dos dados dos utilizadores. Esta medida afetou tanto marcas chinesas quanto europeias, com a Porsche a retirar o modelo Macan do mercado da UE, e a MG, detida pela chinesa SAIC, a registar zero vendas em alguns países europeus.
Com os EUA a avançarem com proibições mais agressivas, a indústria automóvel europeia teme que estas medidas possam ter repercussões graves, especialmente para marcas que dependem de fornecedores chineses ou que produzem veículos na China para exportação.