Uma Inteligência Artificial (IA) poderia aprender como um bebé humano? Foi isso que os investigadores da Universidade de Nova Iorque (NYU) tentaram descobrir numa experiência em que um modelo de IA foi exposto a imagens e sons vivenciados por uma única criança em processo de aprendizagem da fala.
Para isso, os pesquisadores equiparam o pequeno Sam com um capacete com uma câmara de vídeo. A criança, da Austrália, utilizou a câmara em diferentes fases do seu desenvolvimento da fala ao longo de um ano e meio, desde os seis meses até aos dois anos de idade.
O que uma IA pode aprender com um bebé?
Em geral, um modelo de IA como o ChatGPT é treinado com enormes conjuntos de dados que contêm milhões de palavras. As crianças, por outro lado, apresentam uma aprendizagem bem mais avançada que as IAs, utilizando apenas uma pequena fração desses dados.
Para perceber o que uma IA poderia aprender com um bebé, os investigadores da Universidade de Nova Iorque reuniram 61 horas de vídeo captado pelo pequeno Sam. A câmara captou coisas que chamaram a atenção da criança em sua rotina, como seus pais, brinquedos, seus gatos, refeições, etc.
"Este conjunto de dados era completamente único. É a melhor visão que já tivemos sobre aquilo a que uma única criança tem acesso", explicou Brenden Lake, cientista computacional cognitivo da NYU e coautor do estudo publicado na Science.
Para o treino do modelo de IA, os pesquisadores utilizaram 600 mil frames de vídeo emparelhados com frases ditas pelos pais de Sam ou outras pessoas quando a imagem foi capturada. Isso resultou num total de 37.500 enunciados.
O resultado foi uma rede neural que foi capaz de aprender um dos principais componentes da linguagem: como combinar palavras com os objetos que elas representam.
O que isso significa para os avanços em IA
Embora aprender a associar palavras aos objetos que representam possa parecer uma tarefa simples, a verdade é que não é. De acordo com a MIT Technology Review, alguns psicólogos do desenvolvimento argumentam que as crianças devem nascer com uma compreensão inata de como a linguagem funciona para serem capazes de aprendê-la tão rapidamente.
O novo estudo, no entanto, sugere que algumas partes da linguagem podem ser aprendidas a partir de um conjunto muito pequeno de experiências, explicou Jess Sullivan, psicóloga do desenvolvimento na Universidade Skidmore, que fez parte da equipa que recolheu os dados.
“Isso, para mim, realmente abala a minha visão de mundo”, afirmou Sullivan em entrevista à MIT Technology Review.
O próximo passo seria encontrar maneiras de ensinar à IA outras partes do que constitui a linguagem e tentar descobrir o que é necessário para que uma IA reproduza mais de perto a aprendizagem precoce de línguas nas crianças.
“Há mais trabalho a ser feito para tentar obter um modelo com habilidades totalmente semelhantes às de uma criança de dois anos”, afirmou Lake.
Para os investigadores, a criação de modelos que possam aprender mais como as crianças ajudará na melhor compreensão da aprendizagem e do desenvolvimento humanos e dará um passo significativo na aproximação entre IA e inteligência humana.