Estarão as aplicações e assistentes a ouvir-nos e a espiar-nos?

Filipe Alves
Filipe Alves
Tempo de leitura: 5 min.

Desde do início da era dos smartphones que as aplicações fazem parte da nossa vida. Agora é a vez das assistentes virtuais tratarem desse trabalho. Há quem utilize Google Home ou a Alexa para gerir a sua casa. Desde apagar as luzes até saber quem está a tocar à campainha.

Ou seja, não há volta a dar. A tecnologia está a evoluir e o mundo está a evoluir com ela. Porém, até que ponto é que estas assistentes e aplicações estão a ouvir mais do que é suposto? Até que ponto é que nos estão a espiar?

Vê ainda: Há uns tempos falámos de uma patente do Facebook em que a aplicação utilizaria os microfones do smartphone para ouvir partes da nossa conversa e nos dar publicidades. Aliás, o objetivo passava por ouvir também a nossa televisão e perceber quais os canais e publicidades que chamavam mais a nossa atenção.

Será que as aplicações e assistentes nos estão a espiar? As empresas garantem que não, mas...

A Google Home e Alexa são também chamados à razão. Ainda que a Google e Amazon garantam que as assistentes só nos começam a "ouvir" seriamente quando é chamadas o nome delas. Porém, não sou o único que me deparo com situações pouco confortáveis no que toca à minha privacidade.

Já não é a primeira vez que vejo publicidades que encaram com os temas da minha conversa. Mesmo sem nunca ter pesquisado por este assunto. Isto é, quando fazes uma pesquisa no Google, Amazon ou até em aplicações como o Facebook ou Instagram, estas empresas sabem aquilo que te interessa.

Dessa forma, começam a dar-te publicidades destinadas às tuas pesquisas. Não é por acaso que quando procuras por uma nova televisão, terás as publicidades da "tua" internet invadirem-te com dezenas de opções.

Contudo, não é isso que me preocupa. Vou-te contar 3 situações caricatas que merecem um pouco de reflexão. Duas destas aconteceram-me, a última a uma jornalista de tecnologia que se viu obrigada a expôr a situação.

O facebook é uma das aplicações que mais sabe sobre ti

A primeira vez que tal se passou estava em casa com família e amigos. Estávamos perto do Halloween e começamos a deitar para o ar ideias de fatos que podíamos vestir. Um dos meus amigos (farto de não ter conclusões) refere "vamos todos vestir-nos de pénis gigantes. Seria engraçado". Não levámos muito à conta e acabámos por soltar uma boa gargalhada só de imaginar 6 pénis gigantes a andar pela rua.

Pois bem, dois dias depois, as minhas publicidades Google estavam repletas de fatos de pénis gigantes. Yap! Perguntei se alguém procurou no computador ou em algum smartphone sobre a ideia. A resposta foi negativa. Ninguém tinha procurado nada! Será que a Google Home ouviu a conversa? Afinal de contas o nome referido foi "dick costume". Será que a Google Home levou isso à letra e começou a sugerir produtos relacionados?

Andei duas semanas a ver disto nas minhas publicidades

Outra das situações tem pouco mais de uma semana e ainda mais assustadora. Contudo, para isso tenho de te dar um pouco de contexto.

Sou um amante de sapatilhas Adidas. Gosto das PureBoost ou até das UltraBoost. Porém, o seu design não é o mais elegante para vestir de uma forma um pouco mais formal. Assim sendo, andei pelas lojas com a minha namorada a ver outro tipo de sapatilhas. Pensei em comprar os modelo "Gazelle" mas visto que não são muito confortáveis acabei por poupar dinheiro e não investir. Todavia, a conversa na loja era "mas a Gazelle isto", "mas as Gazelle aquilo." Em nenhuma altura fiz uma pesquisa online sobre o produto. Tanto eu como a minha namorada.

Moral da história. Um dia depois tinha o meu Facebook inundado de Gazelle! Aliás, tanto não é mentira que ao abrir o Facebook para ver qual era a primeira publicidade que me aparecia, lá estavam as sapatilhas. Recordo que por muito que tenha falado delas, não pesquisei uma vez que seja sobre as sapatilhas. O único momento em que escrevi "Gazelle" foi para escrever este artigo. Neste exemplo temos até um outro modelo. Normalmente só me aparecem as "Gazelle" em várias cores.

Mas não fui o único

Por fim, não fui o único a deparar-me com a situação. A jornalista do "Lauren Goode", expôs no seu twitter uma situação semelhante.

"Durante as festividades, um parente falou sobre a próxima viagem ao Parque Nacional de Zion e outro sobre seu sobre veganismo / direitos dos animais. Eu mesmo nunca procurei por tais coisas. Agora estou a ver anúncios do Parque Nacional de Zion e bolsas de couro veganas."

Ademais, o conhecido Walt Mossberg, referiu mais uma vez (de forma indireta) ao dizer que continua a não confiar em serviços como a Google Home e a Alexa.

Aliás, no seu antigo Podcast Ctrl-Walt-Delete, Mossberg referiu por várias vezes que tinha uma Alexa constantemente em silêncio. Não porque tinha medo de falar em frente à assistente, mas pela pouca à vontade de estar constantemente a ser ouvido.

Em suma, não pode ser por acaso que tais coisas aconteçam. Estou a fazer um novo teste com a Google Home. Deitar sugestões para o ar que gostava de ir de férias para determinado local. Isto sem ativar a Assistente. Vamos ver até que ponto é que sou sugerido pelas publicidades da empresa de Mountain View. Já no que toca a outras aplicações, não é assim tão simples perceber se nos estão, ou não, a ouvir.

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Filipe Alves
Filipe Alves
Fundador do projeto 4gnews e desde cedo apaixonado pela tecnologia. A trabalhar na área desde 2009 com passagens pela MEO, Fnac e CarphoneWarehouse (UK). Foi aí que ganhou a experiência que necessitava para entender as necessidades tecnológicas dos utilizadores.