A venda da Warner Bros. Discovery ficou praticamente decidida após alguns dias de disputa entre a Netflix e a Paramount. Após meses de negociações, a Netflix anunciou no início deste mês a compra definitiva da Warner Bros. Discovery por cerca de 83 mil milhões de dólares (71,27 mil milhões de euros). Na semana passada, contudo, a Paramount voltou à disputa com uma oferta de 108,4 mil milhões de dólares.
Agora, o conselho de administração da Warner Bros. Discovery rejeitou oficialmente a proposta da Paramount, classificando-a como hostil e financeiramente arriscada, abrindo caminho para a conclusão do acordo com a Netflix.
A decisão reforça a posição da Netflix como futura proprietária dos estúdios de cinema e televisão da Warner Bros., do vasto catálogo do grupo e do serviço de streaming HBO Max. Numa nova declaração, a gigante do streaming procurou tranquilizar o mercado sobre o que isso significa.
Por que a oferta da Paramount foi recusada
Conforme noticiado pela Reuters, para o conselho da Warner Bros., a proposta da Paramount não apresentou garantias de financiamento consideradas sólidas.
Numa comunicação dirigida aos acionistas, a administração acusou a empresa de ter “enganado consistentemente” o mercado ao afirmar que a oferta em numerário de 30 dólares por ação estava totalmente garantida pela família Ellison, liderada por Larry Ellison, CEO da Oracle.
“Não garante, e nunca garantiu”, escreveu o conselho, sublinhando que a proposta envolvia riscos significativos e incertezas financeiras.
Outro ponto crítico foi o nível de endividamento que a Paramount assumiria caso o negócio avançasse. Segundo a Warner Bros., a empresa, avaliada em cerca de 15 mil milhões de dólares e com uma classificação de crédito apenas um nível acima de “lixo”, ficaria com um rácio de dívida equivalente a 6,8 vezes a sua receita operacional, praticamente sem fluxo de caixa livre.
Além disso, o acordo imporia restrições operacionais consideradas pesadas, limitando novos contratos de licenciamento de conteúdos durante um longo período de transição.
A proposta da Netflix é vista como mais segura
Em contraste, a oferta da Netflix, de 27,75 dólares por ação, foi descrita como vinculativa e sustentada por compromissos de dívida robustos, sem necessidade de financiamento adicional por capital próprio.
A Warner Bros. destacou ainda a solidez financeira da Netflix, uma empresa com capitalização bolsista superior a 400 mil milhões de dólares e um balanço com grau de investimento, fatores considerados determinantes para proteger os interesses dos acionistas.
"O Conselho da Warner Bros. Discovery reforçou que o acordo de fusão com a Netflix é superior e que a nossa aquisição é do melhor interesse dos acionistas", afirmou o co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, em entrevista à Reuters.
A reação do mercado não se fez esperar. Antes da abertura das bolsas, as ações da Warner Bros. recuaram 1,4%, enquanto a Netflix subiu 1,5%. Já a Paramount registou uma queda de 1,8%, refletindo a desconfiança dos investidores quanto à viabilidade da sua proposta.
Quando a compra deve ser oficializada
A Warner Bros. ainda não marcou a data para a votação dos acionistas sobre o acordo, mas a expectativa é que o processo avance algures entre a primavera e o início do verão do próximo ano, segundo afirmou o presidente da empresa, Samuel Di Piazza, em declarações à CNBC.
Do lado da Netflix, o diálogo com as entidades reguladoras já está em curso. Greg Peters, co-CEO da empresa, confirmou contactos com o Departamento de Justiça dos EUA e com a Comissão Europeia, mostrando confiança de que o negócio será visto como positivo tanto para os consumidores como para o crescimento do setor.
O que muda para o cinema e para o streaming
A oficialização da compra fará com que a Netflix se torne proprietária dos estúdios Warner Bros. e de todo o catálogo associado, incluindo Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Game of Thrones e os super-heróis da DC, como Batman e Superman. A gigante do streaming absorverá também a HBO Max.
A Netflix procurou tranquilizar o mercado e os reguladores, garantindo que continuará a lançar os filmes da Warner Bros. nas salas de cinema, afastando receios de que o acordo possa reduzir a oferta cinematográfica. Além disso, a fusão pode originar um novo pacote de assinatura combinando Netflix e HBO Max, possivelmente por um valor inferior ao dos dois serviços separados.
Para o público, este movimento poderá traduzir-se, a médio prazo, numa maior concentração de conteúdos premium na Netflix, incluindo produções da Warner Bros. e da HBO, com impacto direto na oferta disponível e na dinâmica do mercado de streaming.
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