DJI agora é Xtra?
Com os Estados Unidos prestes a apertar ainda mais as restrições à importação de produtos chineses, a DJI, conhecida marca de drones de filmagem e action cams, parece ter encontrado uma forma de continuar a vender as suas câmaras no mercado norte-americano.
De acordo com uma investigação publicada pelo The Verge, a marca poderá estar a contornar as tarifas e inspeções alfandegárias através de uma nova empresa fantasma registada nos EUA, a Xtra Technology, que parece estar a vender o mesmo hardware da DJI sob outro nome.
Quem é a Xtra Technology?
A Xtra Technology afirma ser uma startup “independente e dinâmica”, registada no estado de Delaware, EUA. Mas tudo indica que é uma sucursal americana da DJI.
Análises de software e comparações técnicas, incluíndo do interior dos equipamentos, revelam que as câmaras Xtra são praticamente idênticas às da DJI. Estas incluem o DJI Osmo Pocket 3 e as Osmo Action 4 e 5 Pro.
O repórter Sean Hollister, do The Verge, comprou uma destas câmaras (a Xtra Muse) e comparou-a diretamente com a sua Osmo Pocket 3 original.
Encontrou o mesmo design, os mesmos componentes internos, o mesmo desempenho e até a mesma compatibilidade com acessórios da DJI.
A única diferença parece mesmo ser... o nome.

Um disfarce quase perfeito
Nos registos da FCC (a entidade que regula as comunicações nos EUA), as duas câmaras, a Xtra Muse e a DJI Osmo Pocket 3, partilham os mesmos chips, placas e estrutura interna.
No código da aplicação da Xtra, há mais de 7.500 referências diretas à DJI e aos seus produtos, incluindo ligações ao LightCut, o editor de vídeo oficial da marca.
Apesar de tudo isso, a DJI recusou comentar a ligação quando questionada diretamente, limitando-se a dizer que não se pronuncia sobre “especulações”.
Para quem vive nos EUA este esquema tem vantagens...
Ao criar uma empresa com nome americano e morada local, a Xtra consegue exportar legalmente câmaras “fabricadas” nos EUA, evitando as tarifas impostas a produtos chineses.
Na prática, é a DJI a vender os mesmos dispositivos com outro logótipo, por um preço bem mais baixo. Em alguns casos a diferença é de até 300 dólares mais barato do que o modelo original.
Enquanto a DJI Osmo Pocket 3 é vendida nos EUA por 799 dólares (691,29€), a Xtra Muse surge em campanhas da Amazon a 499 dólares (431,73€).
Em Portugal, esta mesma câmara DJI custa 514,25€, na amazon (preço sujeito a alterações).

Uma corrida contra o tempo
A estratégia surge num momento crítico: em dezembro de 2025, entra em vigor uma nova regra que pode banir todos os produtos DJI com comunicações sem fios dos Estados Unidos.
Apenas se uma agência de segurança nacional norte-americana declarar oficialmente que os dispositivos “não representam risco para a segurança”, é que a DJI poderá continuar a exportar para este país.
Até lá, a empresa parece estar a usar a Xtra como teste público para contornar as restrições e, segundo especialistas, pode estar a criar um modelo que outras marcas chinesas vão copiar.
“Estamos a assistir à primeira tentativa pública de contornar proibições”, afirmou o investigador Konrad Iturbe. “Se funcionar, será um manual para outras empresas seguirem o mesmo caminho.”
O que significa isto para o mercado global
A movimentação da DJI mostra até que ponto as tensões comerciais entre a China e os EUA estão a empurrar as empresas para soluções criativas ou arriscadas.
Mesmo que a Xtra venha a ser desmascarada oficialmente, o precedente já está criado: uma marca pode reinventar-se sob outro nome para escapar às sanções.
Se funcionar nos EUA, nada impede que a DJI ou outras gigantes tecnológicas usem a mesma tática na Europa, caso enfrentem restrições semelhantes no futuro.