Quando uma marca domina um determinado mercado, qualquer quebra pode afetar negativamente esse mesmo mercado. E se o domínio for grande, poderá mesmo provocar distorções significativas, gerando uma ideia que, na realidade, poderá não ser tão negativa.
É o que está a acontecer com o mercado dos veículos elétricos na Europa em 2024, pelo menos segundo os dados disponibilizados pela Associação Europeia dos Construtores de Automóveis (ACEA).
Segundo esta organização, apesar do abrandamento do mercado dos VE nos EUA e no continente europeu em 2024, em contraponto com os mercados asiáticos, na verdade o cenário só é negativo, de forma significativa, para uma empresa: a Tesla. E parece que é mesmo a empresa liderada por Elon Musk a culpada dos dados registados em 2024.
‘annus horribilis’ para a Tesla em toda a Europa
O cenário sobre mercado de VE na Europa até novembro deste ano, avançado agora pela ACEA, revela assimetrias entre marcas e países que, no final do dia, resultam numa descida global das vendas de VE.
Comecemos pela Tesla, tendo como base dados desta organização divulgados pelo site autoblog. Em toda a Europa este fabricante norte-americano vendeu cerca de 283 000 veículos, o que representa uma queda 13,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Este cenário é particularmente negativo na Alemanha, onde as vendas de veículos Tesla caíram 47% (embora não seja o único fabricante com maus resultados).
A provar esta espécie de ‘annus horribilis’ para a Tesla na Europa, os dados de vendas relativos apenas a novembro estão aí para o confirmar: menos 28% de carros vendidos em toda a Europa face a novembro do ano passado, “o que sugere que o défice de vendas da empresa a partir de 2023 está a piorar e não a melhorar” indica o autoblog.
As causas estarão sobretudo na falta de novos modelos Tesla face a propostas rivais, mais recentes e avançadas, e mesmo as baixas de preços introduzidas por Musk foram perdendo impacto, à medida que outros modelos, de outros fabricantes, também revelaram apostas nesse fator.
Vendas sobem... se excluirmos a Tesla
Para quem julgava que o mercado de VE na Europa estava estagnado, ou mesmo a regredir, os dados da Associação Europeia dos Construtores de Automóveis revelam alguma resiliência.
Até novembro as vendas globais de novos veículos elétricos na Europa tinham diminuído cerca de 1,4% face a 2023 mas, se excluirmos as vendas da Tesla, a verdade é que até cresceram 1,3%, “mais do dobro da média global do mercado de 0,6%”. Refere a mesma fonte que este é, afinal, “um sinal promissor para a maioria dos fabricantes de automóveis - e preocupante para a Tesla”.
Olhando para as vendas de VE nos países, de forma individual, o pior cenário registou-se na Alemanha, onde, além da Tesla, também a Volkswagen viu as vendas dos seus VE caírem mais de 20% este ano. Os dados da ACEA indicam que o Reino Unido e a Dinamarca foram os países que mais cresceram em número de unidades vendidas, representando “mais de metade dos cerca de 150000 VE adicionais registados em 2024”.
A receita para o mercado dos VE ter um novo impulso estará assim em novas linhas de veículos, diversificadas e com preços competitivos, de forma a ir ao encontro do que os consumidores europeus procuram – e que muitos fabricantes asiáticos e, sobretudo, chineses, já começaram a perceber.