
O acidente com o Boeing 787-8 Dreamliner da Air India, que caiu minutos após descolar de Ahmedabad esta quinta-feira (12), trouxe à tona não só a dimensão da tragédia — com mais de 240 pessoas a bordo — mas também um debate sobre a tecnologia desta aeronave e os possíveis fatores que poderão ter contribuído para o acidente.
Analisámos o que especialistas internacionais estão a dizer para perceber o que torna o 787-8 um marco tecnológico e quais os pontos críticos que merecem atenção após o acidente.
O que torna o Dreamliner um avião diferente
O Boeing 787-8 Dreamliner é considerado um dos aviões comerciais mais avançados do mundo. Graham Braithwaite, especialista em aviação da Universidade de Cranfield, citado pela Reuters, afirma que “o 787 é um modelo relativamente novo, com um historial de segurança forte e sem acidentes anteriores”. O avião foi lançado em 2011 e, até hoje, não tinha registado desastres fatais.
Estrutura e materiais inovadores
O 787-8 revolucionou a aviação ao utilizar cerca de 80% de materiais compósitos não metálicos na sua estrutura, explica Gerardo Portela, especialista em gestão de risco, em entrevista à CNN Brasil.
Esta inovação reduz o peso da aeronave, aumenta a eficiência no consumo de combustível e permite um alcance de até 13.530 km. Contudo, Portela alerta que “esta revolução na construção trouxe desafios”, nomeadamente a necessidade de novas técnicas de manutenção e inspeção.
Motores de última geração
O Dreamliner pode ser equipado com motores Rolls-Royce Trent 1000 ou General Electric GEnx, ambos desenhados para serem mais silenciosos e económicos.
Segundo Braithwaite, esta eficiência é um dos motivos pelos quais o modelo quebrou recordes de vendas e se tornou o preferido para rotas longas.
Cabine e conforto a bordo

No interior, o 787-8 destaca-se pelas janelas maiores com controlo eletrónico de transparência, sistema de pressurização que reduz o cansaço dos passageiros e iluminação LED ajustável.
O avião foi pensado para proporcionar mais conforto em voos longos, oferecendo ainda entretenimento individual e conectividade em todas as classes.
Tecnologia embarcada e automação
O cockpit é totalmente digital, com ecrãs grandes em LED e sistema fly-by-wire, que substitui os comandos mecânicos por eletrónicos, garantindo maior precisão e segurança. Muitos sistemas hidráulicos tradicionais foram substituídos por elétricos, tornando o avião mais eficiente e fácil de manter.
No entanto, Portela alerta para o facto de que a dependência de sistemas automáticos e softwares complexos pode ser um ponto vulnerável, especialmente em situações críticas.
O que poderá ter falhado, segundo os especialistas
Embora as causas exatas ainda estejam a ser investigadas, os especialistas apontam algumas hipóteses tecnológicas para o acidente:
- Falha de motor: Gerardo Portela destaca que “a falha de motor é uma possibilidade”, sobretudo porque a descolagem é uma fase crítica do voo, que exige uma resposta rápida da tripulação.
- Excesso de carga ou má distribuição: O especialista refere ainda que o excesso de carga ou um planeamento inadequado podem comprometer a performance do avião logo após a descolagem.
- Problemas elétricos: O 787 já enfrentou incidentes com incêndios em baterias e falhas no sistema elétrico, que levaram à paralisação global da frota em 2013, lembra Portela.
- Falha de sensores ou automação: A complexidade dos sistemas automáticos pode provocar respostas inesperadas caso haja falha em sensores ou nos algoritmos de controlo, sobretudo num momento tão sensível como a subida inicial.
Graham Braithwaite acrescenta que, apesar de a descolagem ser uma fase crítica, “acidentes aéreos são incrivelmente raros, especialmente envolvendo aeronaves modernas como o Boeing 787”. Sublinha ainda a importância de aguardar o relatório oficial para conclusões definitivas.
O Boeing 787-8 Dreamliner representa o auge da tecnologia aeronáutica: leve, eficiente, confortável e altamente automatizado. Mas, como referem especialistas como Gerardo Portela e Graham Braithwaite, cada inovação traz os seus próprios desafios — e a segurança depende de uma vigilância constante sobre todos estes sistemas.
O acidente na Índia marca o primeiro desastre fatal do modelo e reforça a necessidade de uma investigação técnica rigorosa para garantir que a tecnologia continue a servir a segurança dos passageiros.