Com o crescimento das redes sociais nos últimos anos, cada vez mais estudos analisam as possíveis consequências negativas. Em termos de saúde mental, a utilização dessas plataformas podem ter impacto nos utilizadores, principalmente se estivermos a falar de crianças. A pensar nisto, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, planeia estabelecer um limite de idade para as redes sociais que deve manter os miúdos longe delas.
"Isto é um flagelo"
Na última terça-feira (10), Albanese revelou, em entrevista à ABC, que o governo australiano vai impor uma legislação federal que deve estabelecer uma idade mínima para poder ter acesso a sites como o Facebook, o Instagram ou o TikTok. Embora essa idade ainda não tenha sido divulgada, o primeiro-ministro afirmou que deve situar-se entre 14 a 16 anos, o que afastaria as crianças das redes sociais.
“Quero ver as crianças fora dos dispositivos mas nos campos de futebol, nas piscinas, nos campos de ténis. Queremos que eles tenham experiências reais com pessoas reais, porque sabemos que as redes sociais estão a causar danos sociais.Isto é um flagelo. Sabemos que há consequências para a saúde mental”, disse o primeiro-ministro australiano.
Conforme noticiou a ABC, os testes de verificação de idade vão ser realizados nos próximos meses. Até mesmo o líder da oposição, Peter Dutton, informou que irá apoiar o limite de idade que for estabelecido, concordando sobre a importância de manter as crianças longe das redes.
“Cada dia de atraso deixa os jovens vulneráveis aos danos das redes sociais e é altura de confiar nas empresas de tecnologia para impor limites de idade”, afirmou.
Mas é possível realmente garantir esse limite de idade?
Alguns analistas ainda duvidam que seja tecnicamente possível impor um limite de idade online. As próprias redes sociais já tentam estipular esses limites, que acabam por ser burlados de alguma forma pelos utilizadores menores de idade. Para Toby Murray, professor associado de computação e tecnologia da informação da Universidade de Melbourne, não está claro se existe uma tecnologia capaz de impor essas proibições.
“Já sabemos que os métodos atuais de verificação de idade não são fiáveis, são demasiado fáceis de contornar ou põem em risco a privacidade dos utilizadores”, afirmou em entrevista à France 24.
Para o primeiro-ministro as "empresas de redes sociais pensam que estão acima de toda a gente", e os pais esperava uma resposta aos problemas de cyber bullying, por exemplo, entre outros materiais nocivos presentes nas redes sociais.
“As redes têm uma responsabilidade social e, neste momento, não a estão a exercer. E nós estamos determinados a garantir que o façam”, destacou Albanese.
Para Samantha Schulz, socióloga sénior da educação na Universidade de Adelaide, o estabelecimento de limites de idade para o acesso às redes faz sentido, mas os problemas são mais profundos que isso.
“Os jovens não são o problema e a regulação da juventude não é a tarefa mais urgente de regular nas plataformas das redes sociais. As redes são uma parte inevitável da vida dos jovens”, explicou Schulz também à ABC.
Apesar de práticas como o bullying e o catfishing (fazer-se passar por outra pessoa online para fazer golpes) irem além das redes sociais, há ainda as consequências psicológicas já tão discutidas que outros aspetos das redes podem causar aos jovens, como o formato de vídeos curtos e a "competição por popularidade".
Em março deste ano, inclusive, a Suíça abriu uma clínica para tratar jovens viciados em TikTok, rede que está a ser investigada na UE sob acusação de ser viciante. A clínica relatou ter listas de espera.