Robôs e humanos correram a meia maratona de Pequim — mas quem é que saiu a ganhar?

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Tempo de leitura: 3 min.

No meio de 12 mil corredores humanos que participaram na meia maratona de Pequim, no último sábado (19), houve um grupo que chamou mais a atenção do que qualquer medalhista: 21 robôs humanoides. Sim, bípedes, em carne… quer dizer, em liga metálica.

Foi a primeira vez que humanos e robôs bípedes participaram num evento de corrida em simultâneo, ainda que em pistas separadas. E o resultado? Quem se saiu melhor: humanos ou robôs?

Primeira corrida de robôs humanoides? Correu… mais ou menos

A iniciativa foi promovida com pompa por vários sectores do governo municipal de Pequim, e prometia mostrar os avanços da robótica chinesa. Mas a realidade foi outra. Dos 21 robôs inscritos, apenas 6 conseguiram completar os 21 km da meia maratona. A maioria não passou da linha de partida ou desapareceu do radar pouco depois.

Todos os participantes mecânicos eram bípedes, nada de rodas escondidas ou truques. Tinham, no entanto, direito a operadores humanos que corriam ao lado para evitar tragédias cibernéticas e fazer manutenção em tempo real. Ainda assim, as quedas foram constantes, os sobreaquecimentos generalizados e as falhas de hardware, uma espécie de ritmo cardíaco artificial em esforço.

O robô mais rápido… mas com ajuda

O destaque foi o Tiangong Ultra, desenvolvido pela UBTech em colaboração com o Centro de Inovação de Robôs Humanoides de Pequim. Com direito a três trocas de bateria e uma queda ao longo do percurso, acabou por completar a corrida em 2 horas e 40 minutos. Foi o único a terminar dentro do tempo limite humano (3h10), garantindo assim o equivalente a um "prémio de participação humana".

O resto? Uma exibição mais próxima de um ensaio técnico do que de uma corrida desportiva. Alguns robôs caíram mal começaram. Grande parte passou por sobreaquecimento. Outros nem aqueceram — literalmente — e foram substituídos por backups ainda durante a prova.

Cabeças a rolar e fita-cola no campo: os momentos mais insólitos da corrida

A corrida, no entanto, teve o seu lado… cómico. O robô Xuanfeng Xiaozi, da empresa Noetix, arrancou em bom ritmo, mas foi quebrando aos poucos. A certa altura, caiu de cara no chão e perdeu a sua cabeça. A solução da equipa foi rápida: fita-cola e siga para bingo.

Já nos últimos metros da prova, o pobre Xuanfeng seguia com uma almofada de arrefecimento presa ao peito, enquanto o pé direito já não se coordenava com o esquerdo. Mesmo assim, conseguiu arrastar-se até à meta, onde foi recebido por outro robô da mesma empresa que já ali estava há dez minutos.

Falharam, sim — mas estão a aprender. E depressa.

Este cenário já não é novidade. Um robô da Universidade Estadual do Oregon, por exemplo, já tinha tropeçado em duas ocasiões durante uma corrida de 5 km em 2021, uma por erro do operador e outra por sobreaquecimento. Ou seja, os desafios são antigos e ainda longe de estar resolvidos.

Mesmo assim, há progresso. Alan Fern, professor de robótica na mesma universidade, vê este tipo de provas como uma forma de testar a robustez do hardware.

“Há cinco anos nem sabíamos bem como fazer um robô andar de forma fiável. Agora já sabemos e isto é uma boa demonstração disso”, disse ele à WIRED, antes da corrida.

Mais do que correr: o verdadeiro teste aos robôs é outro

Para Fern, o que importa não é correr rápido, mas sim funcionar bem em diferentes contextos, sem precisar de instruções humanas a cada passo.

“O grande salto aqui não é de velocidade, é de robustez”, sublinha.

Apesar disso, deixa uma provocação à indústria chinesa:

“Esperaria que a China se concentrasse mais em fazer coisas úteis este ano, porque as pessoas vão-se cansar de ver robôs a dançar e a fazer karaté”, destacou.

Se o objetivo era mostrar ao mundo que a China está a levar os robôs humanoides a sério, a corrida serviu mais como lembrete de que ainda há um longo caminho pela frente, e que esse caminho está cheio de quedas e reinícios. Mas não deixa de ser um sinal de progresso.

Sabryna Esmeraldo
Sabryna Esmeraldo
Sabryna trabalha com comunicação há mais de dez anos e especializou-se a produzir conteúdos e tutoriais sobre aplicações e tecnologia. Consumidora de streamings e redes sociais, adora descobrir as novidades do mundo.