Dois anos depois do lançamento Phone (2), que analisámos à data, a Nothing lança o seu sucessor com a ambição de o posicionar como o seu "primeiro verdadeiro topo de gama". E convenhamos, as melhoras face ao antecessor são mais que muitas.
A controvérsia entre os fãs tem sido muita, pois a mudança de design com a teleobjetiva deslocada e a troca das luzes Glyph pelo ecrã monocromático na traseira geraram polémica. Goste-se ou não, esta mudança fez com que o smartphone fosse mais falado que seria se a Nothing tivesse sido conservadora.
O Nothing Phone (3) chega a Portugal por 849 € e, depois de o usar como meu telemóvel principal nas últimas semanas, posso dizer-te que é um aparelho cheio de personalidade, com ideias muito interessantes, mas também com algumas decisões questionáveis que o impedem de ser perfeito.
Unboxing
A experiência de abrir a caixa de um produto da Nothing continua a ser um dos seus pontos altos. É tudo pensado ao detalhe, desde os materiais à forma como os componentes estão arrumados.
Além do telemóvel, encontras o cabo USB-C para USB-C (com o design transparente da marca), a ferramenta para o cartão SIM transparente e, um ponto muito positivo, uma capa de proteção de boa qualidade já incluída. Como é transparente, continuas a poder admirar o design traseiro.
Qualidade de construção e design
O Phone (3) é, sem dúvida, um smartphone diferenciado esteticamente. Mantém a traseira transparente, a construção premium com uma moldura em alumínio e vidro Gorilla Glass (7i à frente e o mais poderoso Victus atrás). É um telemóvel que se sente sólido e bem construído na mão, apesar de volumoso.
As margens do ecrã estão ainda mais finas e simétricas, o que lhe confere um aspeto muito elegante. Mas é na traseira que surgem as grandes mudanças, e a controvérsia. A câmara telefoto periscópica foi deslocada para a esquerda, criando uma assimetria que dividiu os fãs.
E a icónica Glyph Interface, com as suas tiras de luz, foi abandonada. No seu lugar, temos o Glyph Matrix. Este é, na sua génese, um pequeno “disco” composto por 489 micro-LEDs que funciona como um ecrã monocromático de baixa resolução para mostrar ícones, notificações ou animações.
Pessoalmente, prefiro esta abordagem mais subtil face à Glyph Interface, embora saiba que estou em minoria. Mas também sinto que é um pequeno ecrã com muito potencial por explorar. Outras marcas já colocaram pequenos ecrãs a cores na traseira com resultados mais práticos à nascença que nos permitiam tirar selfies mais facilmente com a câmara principal.
É uma ideia com potencial, mas que ainda precisa de ser trabalhada no software. A parte boa é que a Nothing abriu essa personalização à comunidade. Para já serve para vermos as horas, usarmos o cronómetro, ver o estado da bateria ou ver o temporizador da câmara. Ah, e também é possível jogar ao pedra, papel, tesoura ou rodar a garrafa.
Também é possível vermo-nos enquanto estamos a tirar uma selfie ainda que de forma monocromática. Esta acaba por ser das funções mais úteis. Este Glyph Matrix pode ser ativado com um botão de pressão situado na traseira que se encontra por baixo do vidro principal e no qual sentimos feedback háptico ao tocar.
É intuitivo, o clique é natural, e revela-se efetivo contra possíveis toques acidentais. Será interessante que também o possamos usar para tirar selfies com a câmara traseira. Quase todo o marketing em volta do Phone (3) foi sobre o seu design, que muda face aos antecessores. E acaba por ser também um fator bastante que divide. Mas goste-se ou não, continua a ser um telemóvel que vai virar muitas cabeças na rua.

Ecrã
O painel AMOLED flexível de 6,67 polegadas é muito bom. A resolução de 1260 por 2800 píxeis (460 ppi) permite-nos ter uma boa nitidez, e a taxa de atualização adaptativa de 120Hz torna toda a utilização bastante fluida. O brilho também é um ponto muito forte, com picos de 4500 nits em HDR e 1600 nits em exterior.
Pelos nossos testes, é um smartphone com ótima legibilidade mesmo debaixo de sol intenso. Mas também se sabe comportar em zonas onde se pede brilho mínimo. Onde a Nothing fez uma escolha discutível foi na tecnologia do painel: é LTPS e não LTPO. Num telemóvel de 849 € em 2025, esperava-se um painel LTPO.
Esse é mais eficiente em termos energéticos ao permitir taxas de atualização mais baixas (até 1 Hz). Apesar disso, o utilizador normal que quer consumir uma boa série no serviço de streaming favorito ou jogar aquele título que adora, vai ficar muito agradado com este ecrã. É um painel onde dá gosto consumir vídeo.
Áudio
Sendo a Nothing uma empresa que aposta tanto em produtos de áudio, como os recentes Nothing Headphone (1) que testámos, esperava um salto na qualidade. E isso verifica-se. O Phone (3) tem melhorias no som, tanta na clareza do mesmo, como no volume providenciado pelos altifalantes estéreo. Embora, claro, apresente alguma distorção quando colocamos o volume no máximo, é bastante reduzida.
Tanto para ouvir a ‘Labirinto’ de Silly com graves pronunciados ou a ver o filme Mickey 17, o desempenho é muito satisfatório. Possui boa dispersão das várias frequências, embora sem apresentar o nível dos melhores do segmento. Em resumo, vais ficar satisfeito com o desempenho neste campo, mas não esperes o desempenho de cristalino de modelos mais caros.
Desempenho
Por falar em desempenho, o coração do Phone (3) é o processador Snapdragon 8s Gen 4. É importante notar que este não é o "Snapdragon 8 Elite", a versão mais potente da Qualcomm. Está um patamar abaixo, sim, mas não te deixes enganar. O desempenho é muito bom para a esmagadora maioria dos utilizadores. Em conjunto com os 12 GB ou 16 GB de RAM LPDDR5X (da nossa unidade de teste) e o armazenamento rápido UFS 4.0 (256 GB ou 512 GB), nunca senti o telemóvel a fraquejar.
Seja a saltar entre dezenas de apps, a editar fotos ou em sessões de gaming, não senti em nenhum momento diferenças para topos de gama com o Snapdragon 8 Elite. Mesmo a jogar Genshin Impact com os gráficos mais elevados, porta-se impecavelmente.
Os números no Geekbench colocam-no onde esperávamos. Não está ao nível de equipamentos com o Snapdragon 8 Elite, mas está à frente da geração anterior (Snapdragon 8 Gen 3), como é o caso do S24 Ultra. É desempenho mais que suficiente para 99% dos utilizadores.
Pontuação no Geekbench 6
- CPU: 2156 (single-core); 6994 (multi-core)
- GPU: 13669

Software
O Nothing OS 3.5, baseado no Android 15, continua a ser um dos grandes trunfos da marca. É uma experiência de software limpa, rápida, esteticamente coesa e sem qualquer "lixo" pré-instalado. Tens uma boa dose de personalização, e isso nota-se por exemplo no ecrã de bloqueio e nos ícones com o design da própria Nothing.
Mas também é possível optar pelo design de Android puro. A escolha é tua. As novas funcionalidades como o Essential Space estreado nos Phone (3a) e Phone (3a) Pro (uma espécie de segundo cérebro para as tuas ideias) e a Essential Search são úteis. A primeira vem inclusive acompanhada de um botão.
Através de um clique nesse botão, podes escrever ou gravar por áudio as tuas ideias e mais tarde consultá-las no Essential Space. Se tiveres uns Headphone (1), também o poderás fazê-lo através do botão dedicado nos headphones. Já a Essential Search é uma pesquisa que percorre todo o sistema e que te permite procurar por certas definições no equipamento, aplicações ou até fazer uma pesquisa direta no browser da tua preferência.
É uma abordagem semelhante ao Spotlight da Apple. A grande novidade, e um enorme ponto a favor, é a nova política de atualizações da Nothing para este equipamento. A marca promete agora 5 anos de atualizações do Android e 7 anos de atualizações de segurança, o que um bom salto.
Câmaras
O sistema de câmaras é competente e versátil. Tens um sensor principal de 50MP (1/1.3"), uma ultra angular de 50 MP e uma teleobjetiva periscópica também de 50 MP com zoom ótico de 3x e digital de 60x. Os resultados são bons, com cores vivas e bom detalhe na maioria das situações, graças ao novo processador de imagem TrueLens Engine 4.











Notei algumas dificuldades na focagem automática, que espero que a marca possa corrigir mais tarde com atualizações. Apreciei particularmente os perfis fornecidos pela marca, que nos permitem tirar fotografias bem engraçadas, com um tom mais retro, a preto e branco, ou mesmo com a deformação típica dos papéis de parede da Nothing.







O vídeo também dá um salto de qualidade face à anterior geração. Não temos aqui o detalhe de equipamentos mais caros, mas para a maioria dos utilizadores este trabalha de forma competente. É relativamente estável e permite gravar até 4K. A câmara frontal é igualmente de 50 MP e tira boas selfies.
Esse sensor conta com uma boa estabilização ótica de imagem, que a torna também interessante para fazer videochamadas em movimento. No entanto, por 799 €, esperava talvez um pouco mais de ambição no hardware para competir diretamente com os melhores do mercado, como os Pixel 9, Galaxy S25 ou o OnePlus 13 que encontramos dentro destes preços.

Bateria
A bateria de 5150 mAh, com a tecnologia de silício-carbono, fornece uma autonomia muito boa para um dia inteiro de uso intensivo. Um utilizador mais leve poderá facilmente chegar a um dia e meio de utilização Poderia ter uma capacidade ligeiramente maior? Gostaríamos de ter visto mais alguma ousadia. Mas não te vai deixar ficar mal.
O carregamento com fios é de 65 W, pelo que carrega totalmente em 54 minutos. Não é o carregamento mais rápido, mas está acima de marcas como a Apple, Samsung ou Google. Tem também carregamento sem fios de 15 W que é suficiente para quando carregas durante a noite. Também fornece carregamento inverso até 5 W.
Para quem é o Nothing Phone (3)?
Este telemóvel não é para o consumidor que procura apenas a melhor folha de especificações pelo preço mais baixo. É para quem valoriza um design capaz de virar cabeças, a identidade da marca e uma experiência de software Android muito bem curada.
É para quem quer um telemóvel que se destaque da multidão e que seja uma peça de conversação. Porque não duvides que vai ser tema de conversa. É uma excelente alternativa ao ecossistema da Apple para quem procura um Android com um "feeling" premium e uma filosofia de design forte.
Em contraponto, não é para quem quer um equipamento que vá passar despercebido. Este é um smartphone que dá nas vistas. Também não é para quem está interessado na folha de especificações mais poderosa nesta faixa de preço. Não é a isso que se propõe.
Conclusão
O Nothing Phone (3) é a afirmação da maturidade da marca, goste-se ou não dessa maturidade. É um pouco quando a nossa banda preferida lança um disco que afirmam ser o seu mais maduro, mas podemos não nos identificar assim tanto com o mesmo.
Para muitos fãs da marca não é agradável o abandono da Glyph Interface, para usar o Glyph Matrix. Pessoalmente acho que este pequeno ecrã na traseira tem potencial para ser mais útil no futuro. Mas à data da análise ainda está um pouco limitado nesse sentido.
É um telemóvel que se sente premium, um software que é um deleite de se usar e um desempenho muito sólido, mesmo que não tenhamos aqui o processador mais poderoso da atualidade. Posso garantir-te que 99% dos utilizadores não sentirão qualquer limitação.
O preço de 849 € torna algumas das suas fraquezas, como a porta USB-C 2.0, o ecrã LTPS ou a falta desse processador de "Elite" mais difíceis de perdoar. É um bom, com uma alma e uma personalidade que poucos têm. Pode não ser escolha mais racional em termos de "specs-por-euro". Mas é, sem dúvida, uma das opções mais interessantes e expressivas de 2025.