Em 2021, Mark Zuckerberg renomeou o Facebook como Meta e estimou que o chamado metaverso poderia atingir 1000 milhões de pessoas ao longo de uma década. Pouco tempo depois, Bill Gates fez uma previsão igualmente grandiosa: em 2 ou 3 anos a maioria das reuniões virtuais mudaria dos quadrados de imagens de câmaras 2D para o metaverso, um espaço 3D com avatares digitais.
Contudo, chegamos a meio de 2024 e as reuniões remotas ainda são realizadas em plataformas como o Zoom, com todas as limitações de uma chamada de vídeo comum em grupo. Mas afinal, o que não saiu como esperado?
Tecnologia de realidade virtual parece não valer a pena ainda para as empresas
Em 2022, a Microsoft anunciou uma parceria com a Meta. O fruto do acordo seria o Mesh, uma plataforma para colaboração em realidade mista, e seu conjunto de aplicações Microsoft 365 para os produtos Quest da Meta.
Neste mesmo período, a Meta lançou o Horizon Workrooms para fins de reunião, a empresa de TI Accenture comprou 60 mil headsets Oculus para treinar novos funcionários em outubro de 2021 e construiu seu próprio metaverso, com salas virtuais e avatares. Tudo no caminho previsto, certo? Não.
Atualmente, 9 em cada 10 empresas podem identificar casos de uso para a realidade estendida na sua organização, mas apenas 1 em cada 5 investiu na tecnologia necessária para isso. Os dados são de uma pesquisa que abrangeu 400 grandes empresas em várias indústrias, publicada pela Omdia em fevereiro, conforme reportou a página Wired.
O cenário parece ser uma consequência de uma seletividade das empresas quanto à forma como utilizam os espaços virtuais. Além disso, a tecnologia de realidade virtual (RV) ainda é bastante dispendiosa, os headsets podem ser visto como pouco naturais e exigem treinamento tecnológico.
"As empresas estão a tentar identificar onde a realidade virtual realmente agrega valor. Não faz sentido usar uma nova tecnologia para algo que está perfeitamente bem em uma video chamada", explicou Rolf Illenberger, CEO e fundador da VRdirect, que se concentra em software de RV para empresas.
Mas já há casos de utilização bem sucedida
Segundo Illenberger, há mais casos bem sucedidos do uso de RV em treino de segurança e em áreas onde os trabalhadores têm uma abordagem mais prática no desenvolvimento de produtos, como engenharia e fabricação de automóveis. A UPS, por exemplo, utilizou tecnologia de RV para treinar os seus condutores nos Estados Unidos.
Há ainda profissionais que realmente já parecem ter compreendido como tirar o melhor proveito do metaverso. A advogada de Toronto Madaline Zannes tem escritórios de advocacia num prédio de 5 andares no mundo virtual do Somnium Space, e utiliza-o para encontrar com colegas e clientes.
Para ela, o metaverso é uma ótima ferramenta de networking e marketing, mas também contribui para promover "uma conexão mais emocional com todos", devido à natureza imersiva das plataformas que ela utiliza. Nos casos em que os clientes estão em outras cidades, a RV traz mais recursos de movimentos e expressão de emoções do que uma chamada de vídeo comum.
Qual deve ser o próximo passo da RV?
Não, a indústria ainda não desistiu dos investimentos nas tecnologias de RV. Pelo contrário, segundo os especialistas, as empresas estão a procurar os melhores casos de utilização para o metaverso. A ideia agora é compreender em que essas tecnologias podem ser aplicadas de facto e como essa experiência pode ser melhor para o utilizador.
Para Anand van Zelderen, pesquisador em comportamento organizacional e realidade virtual na Universidade de Zurique, o metaverso deve ser construído de forma a centrar-se nas necessidades das pessoas reais.
"[O metaverso deve] melhorar a nossa realidade em vez de substituí-la [...] Temos a oportunidade de ser quem queremos ser, de trabalhar onde queremos estar, de encontrarmos-nos da maneira que queremos. Não devia ser tarefa dos supervisores ou dos desenvolvedores de tecnologia ditar como queremos experimentar o metaverso, dar às pessoas mais liberdade para escolher e construir seus ambientes de trabalho", afirmou van Zeldere.
Além das mudanças na relação com o metaverso e na configuração dessa realidade virtual, outro fator poderia influenciar numa maior aceitação do público a essa tecnologia: um novo hardware.
"A realidade virtual não descolou na última década tanto quanto as pessoas imaginavam. Tem sido repleto de falhas e expetativas que excederam a realidade por muito tempo. Parece haver algum nível de rejeição humana à tecnologia", destacou J. P. Gownder, vice-presidente e analista principal da equipa Future of Work na empresa de pesquisa Forrester, em entrevista ao Wired.
É neste ponto em que um hardware mais elegante e melhor, que se assemelha a um par de óculos, poderia mudar o quadro.